Vivendo em face do
fim de tudo
Relações entre os cristãos
"E já está próximo o fim de todas as coisas;
portanto, sede sóbrios e vigiai em oração."
"Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os
outros…"
I Pedro 4:7-11
Introdução
Pela primeira vez Pedro vai dizer
abertamente o que já várias vezes estava implícito na sua carta: o fim
de todas as coisas está próximo. O fim da história está marcado por uma
poderosa intervenção de Deus. Isto inclui o Retorno de Jesus e o juízo final: …o
fim está próximo… Também Tiago 5:8 diz a vinda do Senhor está próxima.
Os cristãos devem viver as suas vidas
na terra em face do fim de tudo. É viver nessa sensação de estar às portas do
desfecho da história.
Mas a expectativa da vinda de Jesus a
qualquer momento tem implicações no nosso modo de vida, pois tudo é visto com
olhos diferentes. Afecta a nossa espiritualidade.
I. Implicações Pessoais – (v.7) – Qual o impacto pessoal na perspetiva iminente do
fim? Sede
sóbrios e vigiai em oração. Três coisas são pedidas:
1.-Ser sóbrio, manter a cabeça fria, não
embriagado pelo mundo, a mente equilibrada, não deixar que alguma coisa do
mundo venha perturbar a capacidade de ver e pensar claramente;
2.-Vigiar, olhando para o mundo na
perspetiva do seu fim iminente, não nos perturbemos nem percamos a esperança;
3.-Orar, manter íntima comunhão com o Senhor. Sobretudo, não nos centremos
em nós mesmos e não enfraqueçamos no nosso bom testemunho cristão.
Mas a perspetiva do fim iminente de todas
as coisas também afeta a maneira como os crentes de se relacionam entre
si, até que Jesus venha. É disso que Pedro fala já a seguir.
II. Testemunho, Relações entre os Cristãos – vs. 8-11 “…uns para com os outros…”
1. AMOR - v.8 – Mas, sobretudo… - Acima de tudo…
- É um modo de chamar a nossa atenção para alguma coisa especial.
O que é? O amor entre os irmãos na fé. Temos que ser verdadeira família. O amor
é um dos principais temas do NT. É a lei real, áurea, determinada pelo próprio
Senhor Jesus: O meu mandamento é este: Que vos amei uns aos outros, assim como eu vos
amei. (Jo.15:12). O amor entre os cristãos é a nossa maior
característica.
Mas
Pedro fala do tipo de amor que devemos ter, mais além: …tende ardente amor uns para com
os outros… Tenham um amor intenso. Numa sociedade cada vez mais hostil,
fria, este amor entre eles era fundamental, para os manter cada vez mais
unidos. Além disso, este amor forte e sincero entre os cristãos traz outras
bênçãos nas relações entre os irmãos.
Quais? …porque o amor cobrirá a multidão
de pecados. Olhem o valor do amor!
O amor encobre, perdoa as ofensas dos
irmãos contra nós. O amor ardente encobre as
transgressões, não tem necessidade de se fixar nas faltas cometidas pelos
crentes uns contra os outros. O amor sincero contribui para dar solução às
diferenças entre nós, promovendo a unidade e o perdão. Se o amor for forte,
afogará as faltas irritantes, acalmará a crítica, a fúria das ofensas.
Paulo escreveu: O amor tudo sofre, tudo crê, tudo
espera, tudo suporta. (I Cor.13:7)
É como o amor de Deus revelado na cruz
de Jesus. Esse amor que foi à cruz cobriu a multidão do nosso pecado,
redimiu-nos, perdoou-nos, salvou-nos. Aqui, a atitude de amor intenso dos
irmãos uns pelos outros vai superar as tensões e levar ao perdão de ofensas. E
mesmo aqueles que fraquejaram, ou se desviaram, devem ser tratados com amor,
que encobre pecados e ofensas e ressalta o amor de Deus por todos, para que
regressem.
2. HOSPITALIDADE - v.9 – Sendo
hospitaleiros uns para com os outros…
A tónica de Pedro neste trecho é as
relações entre os cristãos. Isto é marcado pela repetição de uns
para com os outros (“eis heautus”).
A próxima coisa de que fala, e que tem relação direta com o amor entre eles, é
a prática da hospitalidade.
Naquele tempo, as viagens eram bem mais
demoradas do que hoje e bem mais difícil levar dinheiro por causa dos
assaltantes. Assim, os pregadores e os missionários cristãos que estavam
constantemente a viajar tinham que ser hospedados. Hospedar os missionários era
e foi uma obra sumamente fundamental para o progresso e o espalhar do evangelho
pelo mundo. Incluía também prover todas as suas necessidades enquanto
permanecessem lá.
A hospitalidade era importante para a
vida da comunidade cristã dos primeiros séculos. Senão, reparem. Não havia ainda
templos, todas as reuniões eram feitas em casas. Eis alguns exemplos:
Ler: E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e,
arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão."(At.8:3);
E todos os dias,
no templo e nas casas, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus
Cristo." (At.5:42);
As igrejas da Ásia
vos saúdam. Saúdam-vos afetuosamente no Senhor Áquila e Priscila, com a igreja
que está em sua casa." (I Cor.16:19; Rom.16:5);
Saudai
aos irmãos que estão em Laodicéia e a Ninfa e à igreja que está em sua
casa." (Col.4:15);
E
à nossa amada Áfia, e a Arquipo, nosso camarada, e à igreja que está em tua
casa:" (Filémon 2).
As casas teriam que estar abertas para
receber cada congregação. Assim, os lares dos crentes eram centrais para a sua
vida cristã, lugar de culto, de comunhão com os irmãos. Muitas famílias perderam
tudo, os bens, a família, por causa da perseguição aos crentes. Outros fugiam.
Assim, estes crentes tinham que ser cuidados e recebidos.
Logo, ser hospitaleiro era
fundamental. Mas vejam o que Pedro acrescenta à hospitalidade: sem
murmurações. Ser hospitaleiro sem desprazer, com paciência, baseado no amor
que tudo suporta. Era isto que
Pedro pedia nos relacionamentos dos crentes.
3. SERVIÇO - v.10 – Cada um
administre aos outros o dom como o recebeu…
Vida cristã não é só teoria, é vida de
serviço aos outros. Jesus é o nosso maior exemplo. Ele foi o Servo de Deus, chamado
de Servo Sofredor. Ele mesmo disse que não veio para ser servido, mas para servir (Mc.10:45).
Pedro dá mandamentos p/n/relacionamentos.
Tomando o exemplo de Jesus, vamos nós
também administrar aos outros o dom espiritual que Deus nos deu. Cada um de nós
tem pelo menos um dom espiritual dado por Deus para o serviço cristão. Vejam em
I Cor.12 uma boa definição e explicação desta dávida divina de dons
espirituais. Os vs.7 e 11 são claros: …é dada a cada um para o que for útil…
repartindo, particularmente, a cada um, como quer.
Nenhum crente é excluído porque todos
receberam dons com os quais podem e devem servir aos outros. O que é um dom? É
uma capacidade, um talento, uma vocação especial que Deus dá para o serviço
dentro da comunidade cristã.
Nunca devemos esquecer isto. Um dom espiritual
é dado gratuita e soberanamente pelo Espírito Santo de Deus e a sua função é servir.
Nada mais do que isto. Usar o seu, ou seus dons para autopromoção, para
vaidade, é absolutamente contrário ao propósito divino.
Vejam o v.10 de Pedro: Cada um… recebeu… Deus nivela todos
e torna todos igualmente importantes uns para com os outros. E o que deve
fazer? Reparem que o verbo é administrar. Deve fazer bom e sábio
uso do seu dom. É para usar nos outros, para servir de bênção e de
ajuda aos outros. Eu sirvo outros com o dom que Deus me deu, e também outros
irmãos usam o seu dom para comigo. Ninguém é excluído. Não é só receber, mas
dar.
…como bons mordomos (despenseiros). Refere-se ao mordomo, o administrador da casa, o
encarregado de atender às necessidades de todos. …da multiforme graça de Deus. Multiforme
significa “diversidade”. Graça é um favor gracioso de Deus e
imerecido por nós.
O que possuímos recebemos de Deus.
Assim, nós somos um depósito da variada graça de Deus para servirmos aos outros
com amor e humildade sinceros.
Conclusão – Relações entre os
cristãos em face do fim
Pedro
diz que na perspetiva da Vinda de Jesus, num mundo cada vez mais frio e adverso
aos crentes, devemos intensificar o nosso bom testemunho. Como?
Todos
recebemos dons espirituais. Portanto, todos participamos. Não há maiores ou
melhores entre os cristãos. Todos recebemos de Deus o que possuímos.
Em
face do fim dos tempos, que seja este o nosso bom testemunho, de um bom
relacionamento como família cristã, como filhos de Deus pela fé em Jesus
Cristo:
-
ardente
amor uns para com os outros;
-
hospitalidade, sem murmurações;
-
servir uns aos outros com o dom que Deus nos depositou;
-
ser um bom mordomo da graça de Deus
Rui Simão
Pastor na Igreja Evangélica Baptista em Moreira da Maia