sábado, 5 de outubro de 2013

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As Misericórdias de Deus

O Conforto que Deus supre nas horas de angústia e de dor 

Introdução      
A Bíblia é a Palavra de Deus e tem 66 livros divinamente inspirados. Um dos livros que encontramos no A.T. chama-se “Lamentações de Jeremias”. Foi escrito numa das épocas mais duras, mais tristes e mais difíceis para a nação de Israel, quando o seu território foi invadido pelo rei Nabucodonosor. Por isso, lemos ali: As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade.
 
Quais os motivos para Nabucodonosor ter invadido Judá?
O profeta Daniel desvenda-nos os motivos desta invasão que foi um severo castigo de Deus devido à permanente desobediência do Seu povo. Foi na própria cidade do cativeiro, Babilónia, que Daniel em oração confessa o pecado do povo e pede perdão e a misericórdia de Deus. Lemos isto no capítulo 9:
 
"E orei ao Senhor meu Deus, e confessei, e disse: Ah! Senhor! Deus grande e tremendo, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos; Pecamos, e cometemos iniqüidades, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos; E não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram aos nossos reis, aos nossos príncipes, e a nossos pais, como também a todo o povo da terra. A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto, como hoje se vê; aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, e a todo o Israel, aos de perto e aos de longe, em todas as terras por onde os tens lançado, por causa das suas rebeliões que cometeram contra ti. Ó Senhor, a nós pertence a confusão de rosto, aos nossos reis, aos nossos príncipes, e a nossos pais, porque pecamos contra ti. Ao Senhor, nosso Deus, pertencem a misericórdia, e o perdão; pois nos rebelamos contra ele, E não obedecemos à voz do Senhor, nosso Deus, para andarmos nas suas leis, que nos deu por intermédio de seus servos, os profetas. Sim, todo o Israel transgrediu a tua lei, desviando-se para não obedecer à tua voz; por isso a maldição e o juramento, que estão escritos na lei de Moisés, servo de Deus, se derramaram sobre nós; porque pecamos contra ele. E ele confirmou a sua palavra, que falou contra nós, e contra os nossos juízes que nos julgavam, trazendo sobre nós um grande mal; porquanto debaixo de todo o céu nunca se fez como se tem feito em Jerusalém. Como está escrito na lei de Moisés, todo este mal nos sobreveio; apesar disso, não suplicamos à face do Senhor nosso Deus, para nos convertermos das nossas iniqüidades, e para nos aplicarmos à tua verdade. Por isso o Senhor vigiou sobre o mal, e o trouxe sobre nós; porque justo é o Senhor, nosso Deus, em todas as suas obras, que fez, pois não obedecemos à sua voz. Agora, pois, ó Senhor, nosso Deus, que tiraste o teu povo da terra do Egito com mão poderosa, e ganhaste para ti nome, como hoje se vê; temos pecado, temos procedido impiamente.
Ó Senhor, segundo todas as tuas justiças, aparte-se a tua ira e o teu furor da tua cidade de Jerusalém, do teu santo monte; porque por causa dos nossos pecados, e por causa das iniqüidades de nossos pais, tornou-se Jerusalém e o teu povo um opróbrio para todos os que estão em redor de nós. Agora, pois, ó Deus nosso, ouve a oração do teu servo, e as suas súplicas, e sobre o teu santuário assolado faze resplandecer o teu rosto, por amor do Senhor. Inclina, ó Deus meu, os teus ouvidos, e ouve; abre os teus olhos, e olha para a nossa desolação, e para a cidade que é chamada pelo teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias.

Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age sem tardar; por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome.

          O profeta Jeremias deixou-nos, assim, um excelente livro de ensino sobre as misericórdias de Deus. Ele tem bem presente a destruição de Jerusalém e o desterro do seu povo para a Babilónia.  
 
O que é a misericórdia divina? É um acto do Deus Santo e Justo não castigando o homem pecador como merecem os seus pecados. Misericórdia é libertação. Se Deus nos desse tudo o que merecemos, todos estaríamos condenados eternamente. Cada dia que vivemos é um acto da misericórdia de Deus. No Salmo 51:1-2, o rei David apela que Deus suspenda o Seu julgamento: Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade…

Propósito: Descansemos e confiemos nas misericórdias de Deus que nos trazem conforto nas horas de angústia e de dor.

I. O Lamento de Jeremias - 3:19-20
            Não era possível esquecer a aflição, a angústia por que todos passaram e sofreram: “Lembra-te da minha aflição, do meu pranto, do absinto e do fel. Minha alma certamente disto se lembra, e se abate dentro de mim.(vs.19-20).
       Jeremias bem sabia que tudo por que ele e o povo de Israel estavam a passar era fruto do pecado e é exactamente o pecado que torna o cálice da aflição num cálice de amargor profundo. 

II. A Esperança no meio da tristeza – v.21
            Entretanto, a partir do verso 21, as nuvens negras começam a dissipar-se e surge esperança. O profeta não quer entregar o seu coração ao desespero. As coisas que podem dar esperança a Jeremias não são, neste contexto, as coisas passadas e sim as que ele espera que virão no futuro.

 Vamos juntos ver a que coisas o profeta se poderia estar a referir quando disse: Disto me recordarei na minha mente; por isso esperarei” (Lm.3.21)

O que nos pode dar esperança. O que nos ensina o profeta.

III. Em 1.º lugar, o profeta reconhece que mesmo que as coisas estejam ruins, é somente pela graça de Deus que elas não estão piores – 3:22
Nós sabemos que as situações podem ser sempre piores. Nós somos afligidos pela vara do Senhor, mas é por causa das misericórdias do Senhor que não somos consumidos e que não estamos pior.  
                               
Ele reconhece o fluxo constante das misericórdias do Senhor: …não têm fim. Por causa deste fluxo constante nós não somos consumidos. O apóstolo Paulo resumiu bem esta verdade ao dizer:Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos…” (II Co.4.7-10).

As misericórdias fluem de uma única fonte: Deus. Notem a forma plural "misericórdias" que denota tanto abundância como variedade. Deus é uma fonte inesgotável de misericórdias. É por este motivo que ele é chamado de “…o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação” (II Co. 1.3). Todos nós somos devedores à misericórdia de Deus pelo facto de não sermos consumidos.

IV. Em 2.º lugar, o profeta, na sua profunda dor e aflição, ainda pode experimentar esperança na ternura e na compaixão do Senhor – v.23
            Em 3:17-18, ele tinha perdido a esperança. Mas, agora, sabe que pode confiar e descansar que as misericórdias de Deus são novas cada manhã, renovam-se constantemente. Porquê? Porque grande é a tua fidelidade. Deus é fiel. 
                      
            Mesmo em tempos difíceis, quando parece que Deus bloqueou as Suas misericórdias, elas continuam, de facto, a fluir. Os rios das misericórdias de Deus correm cheios e transbordantes e nunca estão secos. Renovam-se pela manhã. Tenhamos esperança. No meio das suas aflições, Jó disse que Deus visita os filhos dos homens a cada manhã: Que é o homem, para que tanto o engrandeças, e ponhas nele o teu coração, E cada manhã o visites, e cada momento o proves?” (Jó 7.17-18)
            Não importa que tipo de dores e problemas nós tenhamos que enfrentar. Mantenhamos firme a nossa confiança na Palavra de Deus que promete: grande é a tua fidelidade”.

V. Em 3.º lugar, o profeta lembra-se que o Senhor Deus é e sempre será a alegria completa e suficiente do Seu povo – v.24
            O que é que nós afirmamos, o que diz a minha alma? Que quando eu tiver perdido todas as coisas que tenho neste mundo, inclusive a minha liberdade, o meu sustento e quase a própria vida, ainda assim eu não perdi meu interesse em Deus. Porções na terra são todas perecíveis, mas o Senhor é porção por toda a eternidade. Vou escolher sempre o Senhor, depender sempre d’Ele, …esperarei nele”.

            Enquanto tivermos amor ao Senhor, temos tudo o que precisamos. Ele é a minha porção. "Esperarei nele". Vou lançar-me sobre Ele completamente. Vou encorajar-me em Deus quando todos os outros apoios que me sustentavam desabarem. Notemos bem: É nossa obrigação fazer do Senhor a porção das nossas almas e recebê-lo como Consolador no meio das nossas lamentações.

VI. Em 4.º lugar, a confiança depositada no Senhor não é em vão – v.25
            Isto é evidente pelos seguintes fatos:

a. Deus é especialmente bom para os que confiam n'Ele e O buscam: Bom é o SENHOR para os que esperam por ele, para a alma que o busca” (Lm.3.25). Busquemo-Lo em oração, na leitura da Sua Palavra.

b. Todos aqueles que esperam no Senhor descobrirão que isto é algo bom: Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do SENHOR” (Lm 3.26). Busquemo-Lo com fé e com esperança. Veremos a Sua bondade e a Sua salvação e livramento.

c. Sejamos humildes perante o Senhor: Ponha a sua boca no pó; talvez ainda haja esperança” (Lm 3.29). Humilhemo-nos, confessemos o nosso pecado e esperemos no Senhor. Quando nos humilhamos desta maneira o profeta nos diz: “talvez ainda haja esperança.                                                    
 
d. Ainda que nos traga aflição, é para nosso bem, e o Senhor não tem prazer nisso–vs.31-33: "
Pois o Senhor não rejeitará para sempre.

Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão, segundo a grandeza das suas misericórdias.

Porque não aflige nem entristece de bom grado aos filhos dos homens. "
            As aflições são um incentivo de Deus ao arrependimento, à santidade. A mão de Deus está no controlo. Há um propósito santo e sábio por detrás. De facto, o que o Senhor quer é derramar o Seu amor, compaixão, misericórdia, salvação. É isto que O move. Não duvidemos disto.
 
Conclusão
            O maior acto da misericórdia divina revela-se na encarnação do Seu Filho Unigénito, Jesus Cristo. Veio para, pela cruz, resgatar o homem pecador condenado :


Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros. Mas quando apareceu a benignidade e amor de Deus, nosso Salvador, para com os homens,  Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, Que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador;  Para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna. (Tito 3:3-7)
 
            Tal como Deus, sejamos nós também misericordiosos para o nosso próximo. Isto ensinou o Senhor Jesus no Sermão da Montanha: Bem-aventurados os misericordioso, porque eles alcançarão misericórdia.


            Descansemos e confiemos nas misericórdias de Deus que nos trazem conforto nas horas de angústia e de dor. As Suas misericórdias são permanentes e contínuas. São novas cada manhã, como o caudal de um rio. Esperemos no Senhor, seja Ele a nossa porção e a nossa esperança.

Pastor Rui Simão
Retiro no Acampamento Monte das Oliveiras, Castelo Branco, 5-10-2013