Habacuque
Primeira Resposta
de Deus ao 1.º Questionamento de Habacuque
Vede entre os gentios, e olhai e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque
realizarei em vossos dias uma obra que vós não crereis, quando for contada.
Habacuque é
um raro profeta que se envolve com o Senhor num diálogo questionador sobre a
justeza das ações de Deus. Ele coloca-se diante de Deus e confronta-O a
respeito das aparentes anomalias da Suas ações sobre a humanidade. O profeta
discute o problema da justiça e da bondade de Deus em face do mal e do
sofrimento humano.
O que é que
ele via à sua volta? Os vs.1 a 4 mostram o que se passava em Judá, a justiça
pervertida, ou ausência dela, os fracos, justos, a sofrerem às mãos dos ímpios.
O profeta olha e vê tudo ao contrário do entendimento bíblico que ele tinha e
que esperava.
Assim, ele
queixa-se e invoca a justiça de Deus. Mas, em resposta, Deus vai dar-lhe a
notícia mais absurda que Habacuque esperaria ouvir.
Deus vai
enviar os babilónios como juízo, como julgamento sobre Judá.
A Babilónia situava-se
entre os rios Tigre e Eufrates, no Médio Oriente, na região onde hoje fica o
Iraque. Eles vão conquistar toda aquela vasta região, chegarão até ao
Mediterrâneo e no ano 586 a.C. virão tomar e destruir Judá levando como cativa
a maior parte da população.
Vamos ver o
que o texto bíblico diz sobre o assunto em Hab.1:5-11. Isto constitui a primeira
resposta de Deus à primeira queixa do profeta.
I. A primeira resposta de Deus ao profeta – vs.5-11
v.5 – Ao lermos
este versículo, parece que estamos a ouvir uma das maiores promessas de
bênçãos. Mas o que Deus vai dizer era como se ouvíssemos hoje algo deste tipo: “As igrejas de Deus em todo o mundo entraram
em tal atitude de afastamento de Deus, da Sua verdade e dos Seus caminhos que
Deus resolveu convocar todos os feiticeiros do mundo para acabar com todas as
igrejas.”.
Foi isto que
soou no contexto de Judá na altura. Deus está a dizer ao profeta e a toda a
nação de Judá: “Não se preocupem. Ponham
os vossos olhos nas nações à volta porque algo sem precedentes está para
acontecer por meio da minha própria mão. Vede…olhai,
Eu vou trazer os babilónios para tratar de Judá.”
Os
babilónios eram gente da pior espécie, os demónios da altura aos olhos de Judá.
O
acontecimento surpreendente é Deus, dos povos vizinhos, levantar o pior.
Por isso, Deus
prossegue, não apenas mencionando os babilónios como os descreve em pormenor
para trazer mais tremor:
vs.6 e 7 – nação
amarga e impetuosa, conhecidos pela sua ferocidade e maldade. Levavam
tudo pela frente, apoderavam-se de tudo o que não era seu. O efeito que
causavam era de uma sensação pavorosa: Horrível e terrível é. Eram
poderosos e orgulhosos.
A resposta de Deus é inesperada. Ele
vai destruir a Sua própria nação por meio de um inimigo assombroso.
Vejam o
grande contraste. Habacuque queixa-se a Deus e pede a Sua intervenção porque
via injustiça, violência, opressão entre o próprio povo de Judá.
Mas, na
verdade, Deus via algo muito pior aos Seus olhos: II Reis 21:1-16; Jeremias 3:11-14. Foi este pecado que levou
o Senhor Deus a castigar Judá com a invasão babilónica.
II. A Primeira Grande Questão
Por isso, a
primeira grande verdade que Deus está a querer ensinar ao profeta Habacuque, e
que nos que ensinar aqui, e que é um problema para nós, para a nossa
compreensão, é esta: OS CAMINHOS DE DEUS SÃO INSONDÁVEIS.
Por meio de
Habacuque, a primeira grande questão e valiosa lição que Deus nos apresenta é
esta: DEUS É INSONDÁVEL.
Deus tem os
Seus caminhos, nós não sabemos de nada ou sabemos bem pouco, achamos que
sabemos alguma coisa, achamos que somos alguma coisa, que somos alguém, mas
estamos totalmente enganados acerca deste Deus Eterno, Altíssimo, Infinito.
Com
facilidade se conclui que os gravíssimos recentes incêndios em Portugal, com
centenas de mortos, devem-se à ira de Deus sobre a idolatria católica de
Fátima. Mas até pôde ser por causa de pecado numa igreja baptista, ou nas
igrejas evangélicas em Portugal.
No AT (um exemplo) - Quem estivesse de fora e assistisse ao grande
temporal no mar, no barco que quase se partia ao meio, acharia que seria Deus a
castigar a idolatria e a impiedade dos marinheiros. Mas a verdade é que tudo
era por causa de um crente, um único que ia a bordo do navio, Jonas. O crente é
que era o causador de tamanha ira de Deus.
No NT (dois exemplos) – Palavras de Jesus às pessoas que concluíram que
dois graves acontecimentos eram castigo particular e específico de Deus sobre
pessoas pecaminosas: E,
NAQUELE mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus,
cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. E, respondendo Jesus,
disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os
galileus, por terem padecido tais coisas? A resposta de Jesus: “ Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes,
todos de igual modo perecereis. E
aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que
foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém. A resposta de Jesus: Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes,
todos de igual modo perecereis. (Lucas
13:1-5)
O Salmista
bem escreveu: Grande é o nosso Senhor, e de grande poder; o seu entendimento é
infinito. (Sal.147:5). E Paulo em Romanos 11:33-34: …Quão
insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque
quem compreendeu a mente do Senhor?...
Repito: Deus tem os Seus caminhos, nós não sabemos de nada ou
sabemos bem pouco, achamos que sabemos alguma coisa, achamos que somos alguma
coisa, que somos alguém, mas estamos totalmente enganados acerca deste Deus
Eterno, Altíssimo, Infinito.
Em
Habacuque, Deus quer ensinar-nos que nós temos que ser muito cautelosos em
apressadamente entender certas coisas sobre a nossa vida, culpando a Deus pelo
que acontece. Deus age muitas vezes de uma maneira que nós não podemos
entender.
A nossa
atitude egocêntrica leva-nos, muitas vezes, a culpar os outros, a ficarmos
ressentidos com a vida, a desconfiarmos do poder e do amor de Deus, a cairmos
em pecado porque não entendemos os caminhos insondáveis de Deus.
Quantas
vezes temos uma mágoa na nossa vida, um aborrecimento por causa de um desastre pessoal
económico, ou familiar, ou por algo que passámos, porque no fundo achamos que
Deus não cuidou de nós, não nos deu a melhor oportunidade possível. Não
pensemos dessa maneira. Deus é bom e é Poderoso. Somente muitas vezes não
entendemos os Seus caminhos de agir.
Vejamos o
exemplo de Israel. Povo escolhido por Deus para por meio dele Se revelar ao
mundo, mostrar o Seu poder e a Sua glória. Para desse povo trazer ao mundo o
Messias, o Redentor. Então, como explicar deixá-los 430 anos em escravidão no
Egipto? Ou olhando depois para a Sua igreja, os primeiros cristãos,
testemunhavam do Evangelho, mas Roma perseguia-os e martirizava-os.
Nós não
entendemos, mas temos que confiar que Deus sabe o que está a fazer.
III. A Segunda Grande Questão – O que é que nós esperamos?
No
entendimento de Habacuque, e no nosso entendimento, achamos que se agirmos bem,
a atitude de Deus vai ser diferente. Deus está irado, mas se nós encontrarmos
uma maneira de Lhe agradar, as coisas melhoram. De irado passará a manso.
Habacuque
protestava contra Deus sobre o que via à sua volta na sua nação, sobre o que
sentia com tudo aquilo e esperava que Deus viesse dar-lhe uma palmadinha nas
costas e dizer-lhe que tudo iria ficar bem em breve.
Esta era a sua expectativa. Mas não
funciona deste modo. Como é a resposta de Deus para Habacuque? Vai ser ainda
mais complicada: “Habacuque, achas que as
coisas estão ruins me Judá? Então, ainda não viste nada. Nem sabes o que vai
acontecer.”
Deus não traz alívio. Deus
aumenta a crise do profeta.
A TRIBULAÇÃO FAZ PARTE DO AGIR
DE DEUS.
Nós
continuamos sempre a achar que o melhor que Deus tem para a nossa vida são
respostas do tipo analgésico para parar a nossa dor. Mas Deus tem outras
ideias. Deus sabe que a tribulação é benéfica para a vida das pessoas.
No fundo, no
fundo, todos temos um certo grau de autossuficiência, arrogância, prepotência
no nosso coração. Fortalezas estas que têm que ser destruídas na vida de um
crente que Deus quer humilde.
Como é que
nós aprendemos na nossa vida? Ouvindo e entendendo um discurso, lendo. Mas
aprendemos muito mais passando por situações que marcam. As coisas mais
importantes da vida só as aprendemos passando por elas, especialmente o
sofrimento.
Podemos ler
muito, mas nada se equipara à experiência. Deus faz bem à nossa vida pela
experiência da tribulação. Deus age desta maneira.
Por isso,
tendo isto em conta, voltando ao texto de Habacuque, o que é Deus vai dizer?
Deus vai detalhar o que vai acontecer com os babilónios. Nem é bom ler isto à
noite.
IV. Deus detalha o poder inimigo e faz perdurar a crise no profeta
vs.8-9 – Muitas
vezes, uma das maiores dificuldades da nossa vida é não queremos encarar, de
frente, a realidade da nossa vida. Há um mecanismo de defesa que é fugir dela.
Mas a verdade é que isso não nos ajudará. A vida é como é e temos que a
enfrentar.
O que Deus
está aqui a fazer com Habacuque é mostrar-lhe a realidade que chegará a todos.
Deus destaca o poder, a força e a capacidade de destruição dos babilónios: “Habacuque, bem-vindo à realidade humana”.
vs.10-11 – Deus
continua a dizer que as coisas serão mesmo muito duras. Os babilónios são
cruéis, são violentos. Judá será entregue às mãos de uns invasores poderosos e
arrogantes e orgulhosos. Porquê? Porque endeusam o seu próprio poder.
Para
Habacuque isto é o cúmulo, sério demais. O templo do Senhor, Deus de Israel, o
Deus vivo e verdadeiro, vai ser destruído. Então, o deus dos idólatras é mais
poderoso do que o Deus de Israel? Deus perdeu a batalha para um ídolo? Isto não
cabe na cabeça de Habacuque. A provocação divina é completa. O inimigo que Deus
usa é totalmente idólatra, é totalmente mau, é totalmente contrário a Deus e
parece levar Deus à derrota.
Isto vai
levar ao segundo grito do profeta.
Muitas
vezes Deus permite a crise. Deus, por vezes, aumenta-a e fá-la perdurar. Mas
também temos esperança em Deus, como veremos. A cura virá no Seu tempo.
Conclusão
O crente
maduro não é o que sabe, ou acha que sabe tudo da Bíblia e que sabe tudo de
Deus.
Não existe
cristianismo sério, cristianismo amadurecido e crentes que não falem de Deus e
da vida cristã de uma maneira frívola e, por vezes, levianamente, sem terem
passado por situação de crise real na vida, sofrimento.
Hoje, toda a gente acha que sabe tudo de Deus,
das Escrituras e que sabe interpretar pela Bíblia tudo o que vai acontecendo no
mundo. Não é bem assim! A Bíblia está aqui aberta para provar isto.
Muita
humildade, muito temor e tremor perante um Deus Soberano, Todo-Poderoso,
Omnipotente, Sábio, Justo, Insondável.
Esta é uma
das grandes lições em Habacuque.
Costumamos
ouvir dizer: “Quem nunca duvidou, nunca creu de verdade”.
Devemos ser
extremamente cautelosos quando falamos acerca de Deus.
Nós achamos
que podemos viver com alguma superficialidade e, por vezes, alguma
irresponsabilidade, no que respeita à verdade de Deus? Então, a maneira que
Deus usa para lidar com isso, para nos amadurecer, é trazer uma santa crise às
nossas vidas.
Essa crise
vai mostrar-nos o que é óbvio. Que aquilo que falamos sobre Deus e que acreditamos sobre Deus, muitas vezes, não
está em sintonia com o que vemos à nossa volta. Mas isso é absolutamente
normal! Só Deus sabe o que está a fazer.
Quem é
honesto e sincero vai clamar por socorro ao Senhor e vai aprender que a vida
cristã não é apenas uma aceitação de pontos de confissão teológica.
Não! Vida
cristã é ser atingido profundamente pela realidade que Deus tem para nós,
crises como as que atingiram Habacuque. Realidades que nós não compreendemos e
que achamos difíceis de aceitar. Que podem levar até a clamar e a reclamar como
Habacuque.
Vida cristã
não pode ser superficialidade, facilidade e lógica. Lógica não faz parte da
Bíblia. Mas ser humilde e temente ao Senhor para aceitar as coisas mesmo quando
Deus aprofunda ainda mais a crise que Ele já nos trouxe.
Mas também temos
esperança em Deus, como veremos. A cura virá no Seu tempo.
Igreja Evangélica Baptista em Moreira da Maia
Rui Simão, pastor