As Sete Últimas Declarações de Jesus na Cruz
Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a
seu tempo pelos ímpios.
Romanos 5:6-11
E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali
o crucificaram, e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda.
Lucas 23:33
A
morte de Jesus Cristo não foi uma morte normal, nem uma morte por acaso. As
Escrituras largamente profetizavam deste sacrifício muitos séculos antes de ter
acontecido. O próprio Cristo ensinou que para isto tinha vindo. Ele disse a
Pilatos em João 19:38: Eu para isso nasci, e para isso vim
ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade.
Jesus
também disse aos Seus discípulos que daria voluntariamente a Sua vida, ninguém
lha iria tirar. Jesus sabia e conhecia a hora que se aproximava e orou ao Pai
para que O fortalecesse em tudo o que iria suportar e que iria sofrer: …Pai,
é chegada a hora… (João.17:1).
Depois de traído e preso durante a
noite no jardim, Jesus foi em poucas horas foi julgado ilegalmente no Sinédrio
judaico, que buscavam falso testemunho contra Jesus para poderem dar-lhe a morte; e
não o achavam… (Mateus 26:59-60). Logo ali começou o sofrimento de
Jesus: Então cuspiram-lhe no rosto e lhe davam punhadas, e outros o
esbofeteavam. (v.67)
Depois levaram
Jesus a Pilatos, autoridade romana, governador que o remeteu a Herodes que com
os seus soldados, desprezou-o e, escarnecendo dele, vestiu-o de uma roupa
resplandecente e tornou a enviá-lo a Pilatos. (Lucas 23:7,11).
Novamente perante
Pilatos, Jesus vai ser julgado publicamente pela autoridade romana e perante a
multidão enraivecida que pedia furiosamente, crucifica-o, crucifica-o. Fazendo
a vontade do povo, …tendo mandado açoitar Jesus, entregou-o para ser
crucificado. (Mat.27:26).
Jesus foi
crucificado às 9 horas da manhã, a 3ª hora dos judeus, contada desde o nascer
do sol. Neste período, Jesus falou por três vezes, referindo-Se aos outros. Ao
meio-dia, a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra (Mateus
27:45). Durante este período, Jesus falou por mais quatro vezes, dizendo
respeito a Si mesmo. Às 15 horas, a hora nona, Jesus expirou. São um
total de sete as frases, as palavras, que Jesus pronunciou durante estas
terríveis seis horas.
Além do profundo significado da cruz,
estas sete declarações de Jesus na cruz são autênticas lições espirituais e um
ministério. Não vamos seguir uma ordem particular.
I. Uma palavra de PERDÃO – Lucas
23:34
E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem…
É uma oração que
expressa a Sua compaixão e amor pelos Seus inimigos. A ignorância dos soldados
foi circunstâncial, porque foram envolvidos na crucificação por ordens
superiores.
Os judeus tinham
as promessas, desde Abraão, Moisés e dos profetas. Os judeus esperavam o
Messias. Mas não O reconheceram e crucificaram Aquele que era a
esperança de Israel. Agora, Jesus suplica ao Pai que os perdoe, que
tenha misericórdia, pois não sabiam quem estavam a crucificar. E era necessário
que se cumprisse a redenção e a profecia bem clara de Isaías 53.
E a resposta do
Pai não se fará esperar. O salteador crucificado ao Seu lado e o centurião
romano, em poucos minutos, chegam à fé e à conversão a Jesus. O centurião
reconhecerá: Verdadeiramente este era o Filho de Deus… deu glória a Deus dizendo: Na
verdade, este homem era justo. (Mat.27:54; Luc.23:47).
Com estas
palavras, Jesus intervém junto do Pai como Mediador, implorando perdão. Cristo
estava a ser humilhado, em grande sofrimento, pregado numa cruz. Mas orava e
intercedia junto do Pai, revelando a misericórdia divina diante do pecador que
Ele ama.
Isaías escreveu: … e
intercedeu pelos transgressores. (53:12); …Cristo morreu a seu tempo pelos
ímpios… Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores (Rom.5:6,8)
II. Uma palavra de COMPAIXÃO – João
19:26-27
Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava
estava presente, disse à sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois, disse ao
discípulo: Eis aí tua mãe. E, desde aquela hora, o discípulo a recebeu em sua
casa.
Em primeiro lugar
vamos ver o que estas palavras NÃO significam.
Não significa que
Jesus estava a entregar a igreja aos cuidados de Maria, como interpreta a
teologia católica romana. OS romanistas vêem nesta passagem que Jesus estava a
colocar Maria como mãe da igreja. Dizem que o apóstolo João ali presente
representa a igreja e que Jesus estava a dizer a Maria: Mulher, eis aí o teu filho (eis
aí a igreja).
Mas isto é uma
grande heresia e uma deturpação do texto bíblico. Porque vejam que no v.27 o
discípulo a recebeu em sua casa. Foi assim que João interpretou as
palavras de Jesus.
Portanto, a
interpretação é muito simples. Do alto da cruz, Jesus contempla a sua mãe e
entrega-a aos cuidados do apóstolo João que doravante a amparia, pois é provável
que José já tivesse morrido. Vemos o cuidado de Jesus pela família mesmo na
crítica hora da morte: …eis aí tua mãe…eis aí o teu filho.
Jesus queria que a
Sua mãe fosse bem cuidada depois da Sua morte. Estas palavras de Jesus mostram
apenas o amor, o carinho e a preocupação de Jesus pela Sua mãe.
III. Uma palavra de SALVAÇÃO – Lucas
23:42-43
E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu
reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no
paraíso.
A oração/pedido daquele
homem é uma das mais ousadas: Senhor, lembra-te de mim…
Enquanto o outro
condenado insultava e reprovava a Jesus, este outro, pelo contrário, arrependido,
reconhece o seu erro e pecado. Ele repreende o outro: …tu nem ainda temes a Deus,
estando na mesma condenação? Reconhece que ele injusto e que Jesus era
justo.
A salvação está
sempre aberta para todos até à hora da morte. A salvação estava disponível para
aqueles dois, mas apenas um a recebeu. Ele mostra confiança, ele profere com
grande declaração de fé a um Rei moribundo, a um Rei envolto em zombaria, dor e
vergonha.
Aquele arrependido
reconheceu que a morte não seria o fim de tudo para ele e que além da morte
existia um reino celestial onde Jesus é Rei e Senhor. Aquele homem exerceu uma
fé em nada inferior aos dos heróis da fé de Hebreus 11.
As palavras de
Jesus, dando-lhe confiança, deram-lhe mais do que ele pensara ou pedira. Não
teria que esperar por um futuro longínquo. Não, seria naquele mesmo dia, em
poucos momentos: hoje.
…comigo no
paraíso, isto
é, compartilhando com o próprio Senhor Jesus o lugar e a condição de
bem-aventurança no paraíso.
Temos aqui, também
algumas outras verdades nestas palavras finais de Jesus na cruz:
1.º- O sono da alma é uma doutrina falsa de
várias seitas, como TJ, Adventistas 7º Dia. A alma é imortal e depois da morte
não fica a dormir na sepultura à espera de uma decisão divina. A alma também não
será destruída se não for salva. Não! Existe céu e inferno. Depois da morte, a
alma estará ou no céu com Deus ou no inferno, consoante a pessoa é um salvo ou
um ímpio.
2.º- A demonstração da justificação pela fé.
Aquele homem pecador creu em Jesus, arrependeu-se do seu pecado e recebeu de
imediato a salvação de Deus. Como Paulo e Silas disseram ao carcereiro em Filipos:
Crê
no Senhor Jesus Cristo e serás salvo. (Actos 16:31)
3.º- Jesus é o Salvador e tem a autoridade para
pronunciar uma palavra que garante a salvação eterna do pecador que se volta
para Ele em fé e arrependimento.
4.º- Nenhum mérito, nenhuma obra humana, nem
mesmo as ordenanças divinas da Ceia e do Baptismo são necessários para a
salvação de uma alma. A salvação vem da graça de Deus e é pela fé: Pela
graça sois salvos, por meio da fé… (Efésios 2:8).
Esta promessa de Jesus é também para
todo o crente, palavras de conforto, de paz, certeza e de salvação.
IV. Uma palavra de SOFRIMENTO
ESPIRITUAL – Mateus 27:46; Marcos 15:34
E perto da hora nona, exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli,
Eli, lama sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?
Aproximava-se o momento crucial da morte de
Jesus. Agora, Jesus, conscientemente,
cumpre mais outra profecia bíblia, a do Salmo 22:1. Este grito de Jesus
assinalou a realidade de que, naquele momento, Ele foi feito pecado por nós,
Deus lançou sobre o pecado da humanidade:
Àquele que não
conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de
Deus. (II
Cor.5:21);
…fazendo-se
maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no
madeiro. (Gál.3:13);
…provasse a morte
por todos. (Hebreus
2:9)
Ilustração do livro.
Suponham que neste
livro estão escritos todos os meus, os teus pecados. A minha outra mão
simboliza Jesus na cruz. Deus diz pelo profeta Isaías: …mas o SENHOR fez cair sobre ele
a iniquidade de nós todos. (Isaías 53:6). Lançar o livro na outra mão
O que estava a
acontecer em que Jesus Se viu sozinho e abandonado pelo próprio Pai?
Jesus era o
cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Deus abandonou Jesus, o
Filho Unigénito, que naquele momento era o representante dos homens pecadores,
para que provasse a morte em substituição do homem pecador! Naquele momento,
Jesus estava a suportar a justiça de Deus, recebe estava a receber o castigo de
Deus sobre Ele, a ira de Deus sobre o pecado: Porque, como, pela desobediência
de um só homem (Adão), muitos foram feitos pecadores, assim, pela
obediência de um (JESUS), muitos serão feitos justos (Rom.5:19).
Era o grito de angústia do Cordeiro,
do Salvador que Se estava a sacrificar a Si mesmo, sozinho, abandonado
pelo Deus Santo e humilhado pelos homens cruéis e ímpios. Sozinho!
Era a hora das
trevas. O Filho clamou, mas do Pai não houve qualquer resposta. Jesus foi
abandonado para que nós não o fôssemos.
V. Uma palavra de ANGÚSTIA e de SOFRIMENTO
FÍSICO – João 19:28
Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas,
para que que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede.
A vida inteira de
Jesus, o Messias, do mais ínfimo pormenor até ao maior, cumpriu as profecias do
AT.. Aqui, conscientemente, Jesus cumpria a profecia do Salmo 69:21: Deram-me
fel por mantimento, e na minha sede deram-me a beber vinagre.
Estes sofrimentos
físicos faziam parte integral dos momentos finais da Sua missão terrena. Foi um
grito por parte d’Aquele que garantira aos outros: e quem crê em mim nunca terá
sede. (João 6:35)… porque a água que eu lhe der se fará nele
uma fonte de água que salte para a vida eterna. (João 4:14). Esta é a
água que o nosso Salvador nos oferece, mas para a ganhar para nós Ele mesmo
teve que experimentar a sede horrível na cruz do calvário.
Os soldados
tentaram dar a Jesus vinho com mirra, mas ele não o tomou (Mc.15:23).
Para cumprir a Escritura, Jesus recusou o vinho, mas aceitou o vinagre. Recusou
tomar qualquer droga par alívio da sua dor. Queria estar consciente para a
plena concretização da redenção da humanidade. Mas Jesus aceitou beber vinagre
para ficar lúcido até ao final (Jo. 19:29).
Esta exclamação
tem um importante significado teológico que mostra a humanidade de Jesus. Cristo
era verdadeiro homem. Nos tempos das primeiras igrejas grassou uma heresia
proveniente de uma seita conhecida como gnosticismo. Dentro dessa seita, havia
ainda um grupo mais restrito, os docetistas. Ensinavam que o corpo de Cristo
era uma ilusão e que a Sua crucificação tinha sido apenas aparente, não real.
Diziam que Deus não poderia estar contido na matéria. Não entenderam e
rejeitaram a encarnação.
Basta lermos o
evangelho de João e a sua clara revelação: E o Verbo se fez carne. Como homem,
Jesus teve sede e morreu.
Os apóstolos foram
claros em todos os seus escritos do NT ao afirmarem a humanidade, assim, como a
divindade, mas também a HUMANIDADE de Jesus.
Assim, aqui, o
apóstolo João registou claramente esta palavra de Jesus na cruz na Sua agonia
humana: Tenho sede. Quem estava a morrer na cruz era homem, além de
Deus. O Seu sangue estava a esvair-se e humanamente o corpo pedia a compensação
de líquido.
VI. Uma palavra de VITÓRIA – JOÃO
19:30
E quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado…
Jesus pronunciou a
palavra grega, o verbo “tetelestai”, que
significa: “Está tudo pago, está tudo
cumprido”. Nós podemos terminar uma obra magnífica, mas será sempre
imperfeita. Só Deus faz tudo perfeito.
Aqui,
conscientemente, Jesus sabe que a Sua grande obra da redenção estava terminada,
concluída com todo o sucesso, perfeitamente. Jesus sabe que todos os propósitos
e desígnios de Deus foram concretizados. Ele já tinha profetizado em João 17:4:
Eu
glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. Com
esta declaração:
1.- Jesus sabe que satisfez todas as exigências da
justiça de Deus para a salvação do homem perdido e condenado: …se ofereceu a si
mesmo, imaculado, a Deus… (Heb.9:14)
2.- Jesus sabe que cumpriu tudo quanto foi
escrito pelos profetas.
3.- Jesus sabe que o caminho para o Santo dos
Santos foi aberto pelo Seu sangue, o sangue do Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo.
4.- Jesus sabe que foi uma consumação
tremenda, mas gloriosa, sabe que provou a morte por todos.
5.- Jesus sabe que pela Sua morte redentora,
pelo derramamento do Seu sangue na cruz, Deus estava reconciliado com os
homens: Isto é, Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não lhes
imputando os seus pecados… (II Cor.5:19).
Também significa
que nada mais há a acrescentar para a salvação dos pecadores. A salvação está
completa. Nenhuma obra humana meritosa se pode acrescentar, mas unicamente pela
obra perfeita de Cristo na cruz.
VII. Uma palavra de INTIMIDADE,
CONFIANÇA E DE UNIDADE COM O PAI – Lucas 23:46 - E clamando Jesus com grande brado, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o
meu espírito. E, havendo dito isto, expirou.
…E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. (João 19:30)
E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito. (Mateus 27:50)
A morte de Jesus
não foi por esgotamento. Como Ele mesmo tinha dito, foi um acto voluntário: …ninguém
ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou… (João 10:18). Jesus
rendeu-Se ao Pai no momento que Ele decidiu.
Jesus sempre
esteve em unidade e em comunhão com o Pai, desde o princípio até ao fim da Sua
existência terrena. Começou o Seu ministério com oração. Orou no início da Sua
paixão no jardim do Getsemani. À medida que o crucificaram e as horas passavam,
orava ao Pai e expirou orando em íntima comunhão, intimidade, confiança e
unidade com o Seu Pai amado.
Na hora da Sua
morte, Jesus foi para o Pai. Jesus sabia que o Seu corpo permaneceria ali,
preso na cruz, para ser sepultado e ressuscitaria dali a três dias.
Mas o Seu espírito
não adormeceu, mas seria com toda a certeza recebido pelo Pai logo após a Sua
morte.
Conclusão
Esta é a mesma
confiança que nós temos.
Também o mesmo
acontece connosco, os crentes salvos. Ao morrermos, o nosso corpo fica cá e
será sepultado. Mas o nosso espírito parte para estar com o nosso Pai
celestial.
Foi Jesus que
ganhou para nós esta salvação na Sua cruz no Calvário.
E nas Suas últimas
sete palavras, nos Seus últimos gritos, nas Suas últimas sete declarações temos
maravilhosas lições que podemos aplicar hoje às nossas vidas pessoais.
Rui Simão
Pastor na igreja evangélica baptista de Moreira da Maia