Os Recabitas
O Dever da
constância e da firmeza em observar os princípios bíblicos
Jeremias 35
…os filhos de
Jonabade, filho de Recab, guardaram o mandamento de seu pai que eles lhes
ordenou, mas este povo não me obedeceu.
Introdução
A mensagem de hoje faz referência a
uma família que, na sua história, contribuiu para limpar de Israel os idólatras
profetas de Baal que ali chegaram pela mão de Jezabel, mulher do rei Acabe, no
tempo do profeta Elias.
Jeremias foi um profeta de Deus
durante um período muito complicado de declínio e de queda da nação. Deus pediu
a Jeremias para levar a mensagem divina ao povo de Jerusalém e de Judá e usou
algumas ilustrações para despertar o povo: Um cinto de linho (cap.13):
O vaso
do oleiro (cap.18): Uma botija de oleiro (cap.19); Dois cestos
de figos (cap.24); Grilhões e jugos ao pescoço (cap.17)
Agora, no cap.35, Deus vai pedir ao profeta que use
como ilustração o exemplo de vida da família
dos Recabitas para dar uma importante lição ao povo de Judá e de Jerusalém.
Propósito: Se quisermos agradar ao Senhor, precisamos de
obedecer-Lhe e isto é uma prova do nosso amor ao nosso Pai celestial.
I. Quem
são os Recabitas, sua origem
1. A sua origem. Quando o
Senhor ordenou a Jeremias que visitasse os Recabitas, (no hebraico, significa “carreteiros”, de “montar, dirigir”) estes
já tinham uma história de aproximadamente 300 anos.
A
casa de Recabe, ou seja, os Recabitas, de uma tribo nómada e dedicada ao
pastoreio, foram a pouco e pouco aparentando-se com os queneus e com os
descendentes de Jetro, sogro de Moisés, até se constituírem num expressivo e
piedoso clã na linha de Judá: …estes são os queneus, que vieram de Hamate,
pai da casa de Recabe. (I Crón.2:55).
2. O seu relacionamento com Israel.
Os Recabitas entram na história do povo de Deus de maneira heróica. No tempo do
profeta Elias, o rei Acabe e sua mulher Jezabel introduziram em Israel centenas
de profetas de Baal que fizeram desviar o povo dos caminhos de Deus para a
idolatria. Isto levou ao castigo de Deus com 3,5 anos de seca em Israel.
Elias
matou cerca de 450 desses profetas no desafio heróico no Monte Carmelo (I Reis
18). Mas ainda sobraram muitos desses profetas idólatras.
Então,
Jonadabe,
o fundador da disciplina dos Recabitas, é convidado pelo rei Jeú para extirpar
os profetas de Baal do Reino do Norte (842-815 a.C.). Nesta ocasião, o recabita
Jonabade identifica-se como tendo um coração recto diante de Deus (II Reis 10.15-17-28).
Neste
encontro, no diálogo entre Jonabade e o rei Jeú, e neste ter convidado Jonabade
a subir no seu carro de guerra, confirma que firmaram uma aliança militar.
E
uma coisa é clara. Por causa do lugar proeminente que o novo rei Jeú lhe deu,
indica que a influência de Jonabade não era de pequena monta, e sim que teria
uma importante posição social.
A
declaração em II Reis 10:15 de que …Jonabade, filho de Recabe, que lhe vinha ao
encontro… (do rei Jeú), mostra que foi Jonabade quem tomou a iniciativa
Apesar
dos desvios do rei Jeú e de outros líderes em Israel, os Recabitas
mantiveram-se fiéis à Lei de Deus, embora não passassem de forasteiros entre os
hebreus.
Isto
mostra que os Recabitas eram defensores radicais e zelosos do nome de Yahweh,
especialmente quando o nome do SENHOR estava debaixo da ameaça de um crescente baalismo idólatra durante o reinado dos maus
reis Onri e Acabe.
Mais
tarde, Malquias, o filho de Recabe, aparece na história da reconstrução de
Jerusalém a reparar a Porta do Monturo sob o governo de Neemias (Ne.3:14),
depois do exílio na Babilónia.
II. O
Estilo de vida dos Recabitas
Deus
vai aqui utilizar o exemplo dos Recabitas para ensinar o Seu povo a respeito da
fidelidade aos Seus mandamentos.
Foi
exatamente entre as trevas e as apostasias de Israel, que Jonadabe se sentiu
impulsionado a fundar uma sociedade que tinha por base a temperança, a modéstia
e, principalmente, o temor a Deus. O seu estilo de vida está bem descrito em Jeremias 35:6-7.
1. Abstinência total de vinho – O seu
patriarca Jonabade decidiu que toda a sua casa se absteria totalmente do vinho,
pois sabiam muito bem do perigo do álcool quanto à moral e aos bons costumes
(Gn 9.20-23; 19.32-38). Além disso, naquele tempo, o vinho estava intimamente
associado às depravadas festas dos ímpios cananeus. Assim, decidiram abster-se
do vinho para terem uma conduta sóbria e recatada.
2. Peregrinos: Não edificavam casas, não semeavam e não plantavam
vinhas, mas viviam em tenda – Vistos de nosso contexto cultural,
os recabitas pareciam os mais estranhos dos homens. Além de se absterem das bebidas
alcoólicas, faziam questão de viver como peregrinos (Hb 11.13), sem raízes
permanentes na terra e para não serem influenciados pela cultura pecaminosa
daquela época.
3. Honravam a tradição dos seus antepassados.
Ao contrário dos judeus que já se haviam esquecido da Lei de Moisés e do
exemplo dos patriarcas, os Recabitas respeitavam e levavam em consideração o
que lhes havia determinado Jonadabe, filho de Recabe: “Assim,
ouvimos e fizemos conforme tudo quanto nos mandou Jonadabe, nosso pai”
(Jr.35.10). A força do caráter de Jonabade vê-se no facto dos seus descendentes
ainda lhe serem obedientes cerca de 300 anos após a sua morte.
4. O encontro dos recabitas com Jeremias.
Os recabitas armaram as suas tendas perto de Jerusalém para escaparem às forças
babilónicas que, dentro em breve, haveriam de destruir a Cidade Santa (605
a.C.). E, agora, recebem o inesperado convite do profeta para se dirigirem à
Casa de Deus. Aqui, seria encenado mais um duro sermão aos descendentes de
Jacó, visando demovê-los de sua rebelião contra o Senhor.
III. O Exemplo dos Recabitas – vs.4-5
Famosos pela sua abstinência total
de vinho, a fim de realçar a fidelidade dos recabitas, Deus pede ao profeta
Jeremias que os conduza ao Templo. E, aqui, na câmara de Hanã, oferece-lhes
taças cheias de um delicioso vinho, e ordena-lhes que o bebam: Bebei
vinho. Por ter a ordem vindo da boca do profeta, os recabitas sabiam
que o Senhor Deus é quem tinha dado a ordem.
A recusa dos Recabitas – Mas
eles disseram: Não beberemos vinho…
Todos
eles se recusam a beber. Prontamente, na boca deles está bem patente o que
permanecia nos seus corações havia séculos: …porque Jonabade, filho de
Recabe, nosso pai, nos mandou…
Coisa alguma era capaz de os
convencer a abandonar a sua decisão.
Com esta demonstração corajosa, Jazanias,
o maioral dos recabitas, deixa bem patente a todos, principalmente aos
ministros do altar, porque é que eles não se davam ao vinho e a fidelidade a
toda a prova aos seus compromissos.
Tentemos
imaginar o cenário.
Os
Recabitas a entrarem bem no interior do maravilhoso templo do SENHOR, a serem
conduzidos pelo profeta de Deus, Jeremias, até às câmaras dos príncipes.
Como
uma tentação, o vinho é posto diante dos recabitas exatamente no interior da
Casa de Deus, numa forma em que eles se viram pressionados a quebrarem a sua
tradição.
Os
rústicos recabitas são submetidos ao teste na presença do profeta e de
representantes dos sacerdotes, mas dão-lhes uma lição de zelosa fidelidade.
Todos
eles, homens, mulheres e crianças, em todos os níveis da sua sociedade, eram
fiéis: Obedecemos, pois, à voz de Jonabade, filho de Recabe, nosso pai, em
tudo quanto nos ordenou… (v.8)
Comecemos
por enfatizar o contraste entre os Recabitas e os israelitas e aprendamos que a
obediência aos preceitos divinos deve ser eterna.
Recabitas x Israelitas
Mantinha os votos feitos a um / Quebraram a aliança com o Deus líder humano Todo-Poderoso
Obedeciam às leis temporais / Recusavam-se a obedecer às leis divinas
Obedeceram por mais de 300 anos / Desobedeceram por centenas de anos
Seriam recompensados / Seriam castigados
IV. A Lição Objectiva - A aprovação do SENHOR aos Recabitas
O Senhor não recomendou tanto as regras deles, mas
sim a OBEDIÊNCIA deles às suas regras, contrastando-os com os demais membros
membros da nação de Israel, que não odebeciam ao SENHOR.
Deus usou uma família inteira para ensinar aos
israelitas acerca da importância de se respeitar as ordenanças divinas. Os
recabitas recusavam beber vinho,
edificar casa, semear sementes, plantar e possuir vinha, porque o patriarca
da família o havia determinado para os seus descendentes (vs.6-7).
Os
recabitas foram obedientes e demonstraram respeito às tradições dos seus pais
que lhes deu uma ordem apenas UMA VEZ e excediam até essa ordem em zelo.
Nos vs.14
e 15, Deus queixa-Se porque falou ao Seu povo não UMA VEZ, mas muitas vezes, desde Moisés no Sinai e ao longo de
séculos. Em vez de se tornarem uma nação distinta obediente às leis do Deus
vivo e verdadeiro, paganizaram-se e acabaram por se tornar um povo idólatra qualquer
em que o Senhor era mais um entre inúmeros deuses.
Nos vs.16-17,
Deus determina o resultado da sua deliberada desobediência: …mas este povo não me obedeceu.
Seriam gravemente disciplinados com a invasão, destruição de Jerusalém, do
templo e exílio na Babilónia.
Conclusão
Vemos como o mundo é tão acérrimo praticante de
tradições que nada têm a ver com a vida cristã e espiritual. O
que podemos aprender, como igreja, com a lição dos Recabitas?
Fidelidade: Constância e firmeza em observar os princípios
bíblicos. Deus utiliza o exemplo dos recabitas para ensinar ao Seu povo a
respeito da fidelidade aos Seus mandamentos.
Num momento de apostasia e de infidelidade, que
levou Deus a castigar Judá com a invasão babilónica e a destruição de Jerusalém,
os recabitas tornaram-se um singular exemplo, para todo o povo de Deus de
moderação, prudência e fidelidade.
Legaram-nos
os recabitas um exemplo tão marcante que, passados vinte e seis séculos, ainda
nos inspiramos no seu equilíbrio e temperança e fidelidade a toda a prova
E
Deus levou-lhes em conta a piedade. Quando da destruição de Jerusalém, o Senhor
deu-lhes suas almas como despojo; foram preservados do mal enquanto os
intemperantes e viciosos judeus eram entregues à ruína.
Os
recabitas honravam a tradição dos seus antepassados, ao contrário dos judeus,
que já se haviam esquecido da Lei de Moisés.
Mas nós, como igreja de Cristo, também
devemos ter um forte compromisso, não com as tradições do mundo, mas com os
mandamentos e preceitos que o Senhor nos deixou.
Precisamos de ter convicções bíblicas
das quais não nos devemos afastar. A igreja de hoje mais parece a Judá do tempo
de Jeremias. Devemos zelas pela espiritualidade e não pelo mundanismo.
Ao serem peregrinos na terra, os
Recabitas não seriam tentados pelo mundo à sua volta. Hoje, quanto mais
dinheiro, quanto mais conforto, quanto mais facilidades os crentes têm, mais
pensam neste mundo e menos pensam no paraíso no céu com o Senhor. Os crentes
não se olham como peregrinos. Somos tentados pelo mundo e enquanto os Recabitas
disseram “NÃO, nós obedecemos aos preceitos do nosso pai”, a igreja tentada
sucumbe e não rejeita o mundo.
A fé dos Recabitas trabalhava a favor
deles. A fé da igreja de hoje trabalha
mais a favor do seu próprio ego, não honrando a Cristo.
Estamos
nos últimos dias. O momento requer sobriedade e vigilância. Como estamos a nos
comportar? Agimos como os recabitas?
Neste
tempo, ordena-nos o Senhor que visitemos a casa dos recabitas. À semelhança dos
recabitas, primemos pela excelência das virtudes cristãs. Caso contrário,
seremos tidos como profanos quando da volta do Senhor Jesus.
E
que jamais nos esqueçamos: a Igreja de Cristo tem um forte compromisso com a
Palavra de Deus, com a temperança, com a sobriedade, com a prudência, com os
bons costumes e com a excelência moral. Afinal, somos a luz do mundo e o sal da
terra (Mt 5.13-16; Ef 5.8-13).
Como
os Recabitas haviam honrado os seus pais, foi justamente esta obediência que
lhes conquistou a aprovação de Deus. Tinha-lhes o Senhor dado, agora, uma
gloriosa promessa (ler Jer. 35.18,19).
Aos
crentes de hoje, diz o Senhor:
“Então,
irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por
palavra, seja por epístola nossa” (II Ts.2.15
Rui Simão, pastor
Igreja Evangélica Baptista de Moreira da Maia