sexta-feira, 4 de julho de 2014



Os Recabitas

 O Dever da constância e da firmeza em observar os princípios bíblicos
                                                                      Jeremias 35
…os filhos de Jonabade, filho de Recab, guardaram o mandamento de seu pai que eles lhes ordenou, mas este povo não me obedeceu.

Introdução      


A mensagem de hoje faz referência a uma família que, na sua história, contribuiu para limpar de Israel os idólatras profetas de Baal que ali chegaram pela mão de Jezabel, mulher do rei Acabe, no tempo do profeta Elias.

 

Jeremias foi um profeta de Deus durante um período muito complicado de declínio e de queda da nação. Deus pediu a Jeremias para levar a mensagem divina ao povo de Jerusalém e de Judá e usou algumas ilustrações para despertar o povo: Um cinto de linho (cap.13): O vaso do oleiro (cap.18): Uma botija de oleiro (cap.19); Dois cestos de figos (cap.24); Grilhões e jugos ao pescoço (cap.17)

 

Agora, no cap.35, Deus vai pedir ao profeta que use como ilustração o exemplo de vida da família dos Recabitas para dar uma importante lição ao povo de Judá e de Jerusalém.

 

Propósito: Se quisermos agradar ao Senhor, precisamos de obedecer-Lhe e isto é uma prova do nosso amor ao nosso Pai celestial.

 

I. Quem são os Recabitas, sua origem

1. A sua origem. Quando o Senhor ordenou a Jeremias que visitasse os Recabitas, (no hebraico, significa “carreteiros”, de “montar, dirigir”) estes já tinham uma história de aproximadamente 300 anos.

A casa de Recabe, ou seja, os Recabitas, de uma tribo nómada e dedicada ao pastoreio, foram a pouco e pouco aparentando-se com os queneus e com os descendentes de Jetro, sogro de Moisés, até se constituírem num expressivo e piedoso clã na linha de Judá: …estes são os queneus, que vieram de Hamate, pai da casa de Recabe. (I Crón.2:55).

 

2. O seu relacionamento com Israel. Os Recabitas entram na história do povo de Deus de maneira heróica. No tempo do profeta Elias, o rei Acabe e sua mulher Jezabel introduziram em Israel centenas de profetas de Baal que fizeram desviar o povo dos caminhos de Deus para a idolatria. Isto levou ao castigo de Deus com 3,5 anos de seca em Israel.

 

         Elias matou cerca de 450 desses profetas no desafio heróico no Monte Carmelo (I Reis 18). Mas ainda sobraram muitos desses profetas idólatras.

 

Então, Jonadabe, o fundador da disciplina dos Recabitas, é convidado pelo rei Jeú para extirpar os profetas de Baal do Reino do Norte (842-815 a.C.). Nesta ocasião, o recabita Jonabade identifica-se como tendo um coração recto diante de Deus (II Reis 10.15-17-28).

 

         Neste encontro, no diálogo entre Jonabade e o rei Jeú, e neste ter convidado Jonabade a subir no seu carro de guerra, confirma que firmaram uma aliança militar.

E uma coisa é clara. Por causa do lugar proeminente que o novo rei Jeú lhe deu, indica que a influência de Jonabade não era de pequena monta, e sim que teria uma importante posição social.

 

         A declaração em II Reis 10:15 de que …Jonabade, filho de Recabe, que lhe vinha ao encontro… (do rei Jeú), mostra que foi Jonabade quem tomou a iniciativa

 

Apesar dos desvios do rei Jeú e de outros líderes em Israel, os Recabitas mantiveram-se fiéis à Lei de Deus, embora não passassem de forasteiros entre os hebreus.

 

Isto mostra que os Recabitas eram defensores radicais e zelosos do nome de Yahweh, especialmente quando o nome do SENHOR estava debaixo da ameaça de um crescente  baalismo idólatra durante o reinado dos maus reis Onri e Acabe.

 

Mais tarde, Malquias, o filho de Recabe, aparece na história da reconstrução de Jerusalém a reparar a Porta do Monturo sob o governo de Neemias (Ne.3:14), depois do exílio na Babilónia.

 

II. O Estilo de vida dos Recabitas

         Deus vai aqui utilizar o exemplo dos Recabitas para ensinar o Seu povo a respeito da fidelidade aos Seus mandamentos.

Foi exatamente entre as trevas e as apostasias de Israel, que Jonadabe se sentiu impulsionado a fundar uma sociedade que tinha por base a temperança, a modéstia e, principalmente, o temor a Deus. O seu estilo de vida está bem descrito em Jeremias 35:6-7.

 

1. Abstinência total de vinho – O seu patriarca Jonabade decidiu que toda a sua casa se absteria totalmente do vinho, pois sabiam muito bem do perigo do álcool quanto à moral e aos bons costumes (Gn 9.20-23; 19.32-38). Além disso, naquele tempo, o vinho estava intimamente associado às depravadas festas dos ímpios cananeus. Assim, decidiram abster-se do vinho para terem uma conduta sóbria e recatada.

 

2. Peregrinos: Não edificavam casas, não semeavam e não plantavam vinhas, mas viviam em tenda – Vistos de nosso contexto cultural, os recabitas pareciam os mais estranhos dos homens. Além de se absterem das bebidas alcoólicas, faziam questão de viver como peregrinos (Hb 11.13), sem raízes permanentes na terra e para não serem influenciados pela cultura pecaminosa daquela época.

 

3. Honravam a tradição dos seus antepassados. Ao contrário dos judeus que já se haviam esquecido da Lei de Moisés e do exemplo dos patriarcas, os Recabitas respeitavam e levavam em consideração o que lhes havia determinado Jonadabe, filho de Recabe: “Assim, ouvimos e fizemos conforme tudo quanto nos mandou Jonadabe, nosso pai” (Jr.35.10). A força do caráter de Jonabade vê-se no facto dos seus descendentes ainda lhe serem obedientes cerca de 300 anos após a sua morte.

 

4. O encontro dos recabitas com Jeremias. Os recabitas armaram as suas tendas perto de Jerusalém para escaparem às forças babilónicas que, dentro em breve, haveriam de destruir a Cidade Santa (605 a.C.). E, agora, recebem o inesperado convite do profeta para se dirigirem à Casa de Deus. Aqui, seria encenado mais um duro sermão aos descendentes de Jacó, visando demovê-los de sua rebelião contra o Senhor.

 

III. O Exemplo dos Recabitas – vs.4-5

         Famosos pela sua abstinência total de vinho, a fim de realçar a fidelidade dos recabitas, Deus pede ao profeta Jeremias que os conduza ao Templo. E, aqui, na câmara de Hanã, oferece-lhes taças cheias de um delicioso vinho, e ordena-lhes que o bebam: Bebei vinho. Por ter a ordem vindo da boca do profeta, os recabitas sabiam que o Senhor Deus é quem tinha dado a ordem.

 

A recusa dos RecabitasMas eles disseram: Não beberemos vinho…

Todos eles se recusam a beber. Prontamente, na boca deles está bem patente o que permanecia nos seus corações havia séculos: …porque Jonabade, filho de Recabe, nosso pai, nos mandou…

 Coisa alguma era capaz de os convencer a abandonar a sua decisão.

 

 Com esta demonstração corajosa, Jazanias, o maioral dos recabitas, deixa bem patente a todos, principalmente aos ministros do altar, porque é que eles não se davam ao vinho e a fidelidade a toda a prova aos seus compromissos.

 

            Tentemos imaginar o cenário.

Os Recabitas a entrarem bem no interior do maravilhoso templo do SENHOR, a serem conduzidos pelo profeta de Deus, Jeremias, até às câmaras dos príncipes.

Como uma tentação, o vinho é posto diante dos recabitas exatamente no interior da Casa de Deus, numa forma em que eles se viram pressionados a quebrarem a sua tradição.

        

Os rústicos recabitas são submetidos ao teste na presença do profeta e de representantes dos sacerdotes, mas dão-lhes uma lição de zelosa fidelidade.

Todos eles, homens, mulheres e crianças, em todos os níveis da sua sociedade, eram fiéis: Obedecemos, pois, à voz de Jonabade, filho de Recabe, nosso pai, em tudo quanto nos ordenou… (v.8)

 

            Comecemos por enfatizar o contraste entre os Recabitas e os israelitas e aprendamos que a obediência aos preceitos divinos deve ser eterna.
 
                    Recabitas                                 x                           Israelitas

 Mantinha os votos feitos a um             /  Quebraram a aliança com o Deus líder humano                                          Todo-Poderoso
Obedeciam às leis temporais                /  Recusavam-se a obedecer às leis                                                                divinas
Obedeceram por mais de 300 anos     / Desobedeceram por centenas de anos
Seriam recompensados                     /  Seriam castigados



IV. A Lição Objectiva - A aprovação do SENHOR aos Recabitas

O Senhor não recomendou tanto as regras deles, mas sim a OBEDIÊNCIA deles às suas regras, contrastando-os com os demais membros membros da nação de Israel, que não odebeciam ao SENHOR.

 

Deus usou uma família inteira para ensinar aos israelitas acerca da importância de se respeitar as ordenanças divinas. Os recabitas recusavam beber vinho, edificar casa, semear sementes, plantar e possuir vinha, porque o patriarca da família o havia determinado para os seus descendentes (vs.6-7).

 

            Os recabitas foram obedientes e demonstraram respeito às tradições dos seus pais que lhes deu uma ordem apenas UMA VEZ e excediam até essa ordem em zelo.

 

Nos vs.14 e 15, Deus queixa-Se porque falou ao Seu povo não UMA VEZ, mas muitas vezes, desde Moisés no Sinai e ao longo de séculos. Em vez de se tornarem uma nação distinta obediente às leis do Deus vivo e verdadeiro, paganizaram-se e acabaram por se tornar um povo idólatra qualquer em que o Senhor era mais um entre inúmeros deuses.

 

Nos vs.16-17, Deus determina o resultado da sua deliberada desobediência: …mas este povo não me obedeceu. Seriam gravemente disciplinados com a invasão, destruição de Jerusalém, do templo e exílio na Babilónia.

 

Conclusão

            Vemos como o mundo é tão acérrimo praticante de tradições que nada têm a ver com a vida cristã e espiritual. O que podemos aprender, como igreja, com a lição dos Recabitas?

 

         Fidelidade: Constância e firmeza em observar os princípios bíblicos. Deus utiliza o exemplo dos recabitas para ensinar ao Seu povo a respeito da fidelidade aos Seus mandamentos.

 

         Num momento de apostasia e de infidelidade, que levou Deus a castigar Judá com a invasão babilónica e a destruição de Jerusalém, os recabitas tornaram-se um singular exemplo, para todo o povo de Deus de moderação, prudência e fidelidade.

 

         Legaram-nos os recabitas um exemplo tão marcante que, passados vinte e seis séculos, ainda nos inspiramos no seu equilíbrio e temperança e fidelidade a toda a prova

 

         E Deus levou-lhes em conta a piedade. Quando da destruição de Jerusalém, o Senhor deu-lhes suas almas como despojo; foram preservados do mal enquanto os intemperantes e viciosos judeus eram entregues à ruína.

         Os recabitas honravam a tradição dos seus antepassados, ao contrário dos judeus, que já se haviam esquecido da Lei de Moisés.

 

         Mas nós, como igreja de Cristo, também devemos ter um forte compromisso, não com as tradições do mundo, mas com os mandamentos e preceitos que o Senhor nos deixou.

 

         Precisamos de ter convicções bíblicas das quais não nos devemos afastar. A igreja de hoje mais parece a Judá do tempo de Jeremias. Devemos zelas pela espiritualidade e não pelo mundanismo.

         Ao serem peregrinos na terra, os Recabitas não seriam tentados pelo mundo à sua volta. Hoje, quanto mais dinheiro, quanto mais conforto, quanto mais facilidades os crentes têm, mais pensam neste mundo e menos pensam no paraíso no céu com o Senhor. Os crentes não se olham como peregrinos. Somos tentados pelo mundo e enquanto os Recabitas disseram “NÃO, nós obedecemos aos preceitos do nosso pai”, a igreja tentada sucumbe e não rejeita o mundo.

 

         A fé dos Recabitas trabalhava a favor deles. A fé da igreja de hoje  trabalha mais a favor do seu próprio ego, não honrando a Cristo.

        

         Estamos nos últimos dias. O momento requer sobriedade e vigilância. Como estamos a nos comportar? Agimos como os recabitas?

 

         Neste tempo, ordena-nos o Senhor que visitemos a casa dos recabitas. À semelhança dos recabitas, primemos pela excelência das virtudes cristãs. Caso contrário, seremos tidos como profanos quando da volta do Senhor Jesus.

        

         E que jamais nos esqueçamos: a Igreja de Cristo tem um forte compromisso com a Palavra de Deus, com a temperança, com a sobriedade, com a prudência, com os bons costumes e com a excelência moral. Afinal, somos a luz do mundo e o sal da terra (Mt 5.13-16; Ef 5.8-13).

 

Como os Recabitas haviam honrado os seus pais, foi justamente esta obediência que lhes conquistou a aprovação de Deus. Tinha-lhes o Senhor dado, agora, uma gloriosa promessa (ler Jer. 35.18,19).

 

Aos crentes de hoje, diz o Senhor:

         Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa” (II Ts.2.15
 
        

                   Rui Simão, pastor
               Igreja Evangélica Baptista de Moreira da Maia

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