O que Cristo se
tornou para nós
Mas vós sois d’Ele, em Cristo Jesus, o qual para
nós foi feito, por Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção.
I Coríntios 1:29-31
Introdução
No início desta primeira carta que Paulo
escreveu à igreja em Corinto, Paulo põe a Pessoa do Senhor Jesus Cristo como o
centro de tudo. Diz que a igreja não é de nenhum homem, de nenhum apóstolo, mas
sim de Cristo. Diz que foi o próprio Cristo que o enviou para evangelizar
(v.17), diz que o centro da sua pregação era Cristo crucificado (v.23),
diz que Cristo é o poder de Deus (v.24) e que o tema único da sua
mensagem naquela cidade foi Jesus Cristo, e este crucificado (2:2).
A
centralidade de Cristo na igreja, a centralidade de Cristo na mensagem a
transmitir às pessoas, o centro da mensagem do Evangelho é Jesus Cristo. A
igreja é Cristocêntrica e a sua mensagem também.
Por isso, ao concluir este primeiro
capítulo, Paulo apresenta quatro importantes atribuições de Jesus para nós. Paulo
vai ensinar-nos sobre o que Cristo Se tornou para nós, crentes: sabedoria,
justiça, santificação e redenção.
I. Pertencemos a Deus – Mas vós sois d’Ele… - v.30
Que
grande verdade! Que grande declaração que vem do próprio Deus. Pertencemos a
Deus. Somos de Deus. Os crentes, os salvos são d’Ele. Os salvos estão em
Jesus Cristo. O crente está na mais estreita relação possível com o Seu
Senhor.
O
crente está em Cristo, está com Cristo. Cristo é uma Pessoa.
Portanto, Paulo descreve aqui uma ligação pessoal com um Salvador Pessoal. O
crente,o salvo, está estreitamente relacionado com a maravilhosa Pessoa do
Salvador, Jesus Cristo: …vós sois d’Ele.
E como, de que forma, é que somos d’Ele?
Um simples olhar
para os pensamentos e ideias de muitos cristãos sugere que a ideia de justiça
pelas obras, isto é, justiça própria, está muito bem enraizada nas mentes de
muitos cristãos. É o acreditar e confiar que alguma coisa fizemos, algum mérito
existe da nossa parte que nos fez pertencer a Deus. Puro e perigoso engano!
Em nenhuma parte
das Escrituras encontramos apoio para esta ideia de boas obras nos levarem a
pertencer a Deus. Na verdade, o que a Escritura nos aponta não é a nossa
capacidade de atingir uma posição correcta diante de Deus, mas sim o sacrifício
de Cristo na cruz é que conseguiu este direito para nós.
Mas vós sois dele, significando que somos filhos de Deus, em Jesus Cristo…
Como podemos ver,
é POR CAUSA DELE, ou seja, de Jesus, que agora estamos em Deus. Não é por causa
do nosso valor ou das nossas habilidades, mas por causa da graça, do amor e da
bondade de Deus que Ele exerceu através do Seu Filho, Jesus.
Vejam o contexto. No
versículo anterior, Paulo diz claramente: Para que nenhuma carne se glorie perante
ele. Ninguém poderá nunca apresentar nada de seu perante Deus para se
gabar ou envaidecer. Não, pertencemos a Deus por causa de Jesus.
Prestem atenção a
algumas passagens que nos ajudam a compreender esta preciosa verdade – sois
dele - ou seja, de que somos filhos de Deus por causa da nossa fé em
Jesus.
1. - João 1:12: Mas,
a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus,
aos que creêm no seu nome. Foi Deus que nos fez filhos d’Ele.
2. - Gálatas 3:26: Porque
todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus.
3. – I João 4:15: Qualquer
que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele e ele em Deus.
Por isso está
escrito no v.30: Aquele que se gloria, glorie-se no
Senhor.
Além
de crer em Cristo, o mesmo Jesus exige de cada pessoa, de cada pecador
arrependimento do seu pecado. Esta foi a Sua mensagem desde o início: …veio
Jesus para a Galileia, pregando o evangelho do reino de Deus, e
dizendo:…Arrependei-vos e crede no evangelho. (Mar.1:14-15). Em Lucas
13:3,5, Jesus é bem claro: …se não vos arrependerdes, todos de igual
modo perecereis. O Apóstolo Pedro, na sua primeira mensagem evangelística
depois da ascensão de Jesus e já cheio do Espírito Santo, uma mensagem que
tinha Cristo no centro, perante a pergunta de milhares de ouvintes: Que
faremos? … E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos… (Actos 2:37-38).
II. O que Jesus se tornou para os crentes; o
que Deus fez de Jesus para nós:
…o qual
para nós foi feito por Deus… - v.30
Antes de
prosseguirmos, quero salientar a primeira palavrinha do v.30, uma conjunção
adversativa: Mas.
Põe os crentes, os
filhos de Deus, em forte contraste com os sábios do mundo dos versículos 18 a
28. A mensagem do Evangelho fala da cruz de Jesus. Apresenta o Salvador do
mundo enviado pelo próprio Deus. Um carpinteiro de Nazaré pregado numa cruz é o
poder de Deus para salvar o homem perdido.
Mas os inteligentes
deste mundo acham isso uma grande loucura, outros acham a cruz redentora um
escândalo. Mas esta sua rejeição da mensagem cruz leva-os à perdição eterna.
Não pertencem a Deus: Pelo que também na Escritura se contém: Eis
que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela
crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas,
para os rebeldes, a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi a principal
da esquina; e uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que
tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados.”
(I Pedro 2:6-8)
Depois, em total
contraste, referindo-se aos que aceitam e amam a mensagem da Cruz, aceitam e
amam Aquele que foi pregado na cruz, Paulo diz: Mas vós sois d’Ele.
Jesus Cristo
tornou-Se, foi feito para nós, crentes, todas estas coisas: sabedoria,
e justiça, e santificação, e redenção.
Tornou-se, foi
feito (passado). Não diz que nós nos tornamos para Ele. Em vez disso ELE
tornou-Se para nós. Quando? Na cruz.
Ele, Jesus, é que
Se tornou sabedoria de Deus, justiça, santificação e redenção. Então, já
sabemos porque é que somos justos, redimidos e santos diante de Deus? Porque
Jesus Cristo tornou-se, foi feito por Deus
para nós todas essas coisas. Não é nosso mérito, mas o mérito está na obra de
Jesus quando encarnou, morreu na cruz e ressuscitou de entre os mortos.
Vamos, pois, ver o
que Cristo é para nós? O que representa Jesus para as nossas vidas? Deus fez de
Jesus a nossa
1. Sabedoria
Uma das coisas que
Paulo está a querer dizer é que em Cristo, Deus revelou a Sua sabedoria, pois
Deus planeou salvar o homem em Cristo, e teve a capacidade de fazer com que
esse Seu plano fosse executado.
Vejam, já há dois
mil anos atrás, muito pouco tempo depois de Jesus ter feito a Sua obra, o mundo
achava a mensagem do Evangelho uma autêntica loucura, uma coisa sem nexo algum:
Porque
a palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós, que somos
salvos, é o poder de Deus. (v.18). E hoje não é assim também?
O mundo,
achando-se sábio, diz que a mensagem da cruz é uma loucura, uma coisa fraca.
Pelo contrário, Deus diz que é na cruz de Cristo que está o Seu poder, que está
a Sua sabedoria, a Sua salvação.
Aos que se acham
sábios deste mundo, a cruz não agrada, não se revêem nada nela. Em agudo
contraste, os crentes amam a grandeza do Evangelho, é tudo menos superficial, é
sabedoria,
oposto de loucura. Os homens sempre acham que os seus métodos é que são
os certos: Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os
caminhos da morte. (Pv.14:12;16:25).
Mas Deus refuta a inteligência
deles, reduz a nada os seus sistemas. Como? Apresentando-nos a pessoa e a obra
do Seu Amado Filho, Jesus Cristo.
Tudo quanto os
homens precisam de conhecer sobre a verdadeira sabedoria, a razão da
existência, para onde vamos, como conhecer a verdade, como alcançar Deus, tudo
está em Cristo.
As pessoas precisam
de conhecer a maravilhosa Pessoa de Jesus. A aparente loucura , afinal, é a
verdadeira sabedoria. Colossenses 2:3 diz que em Jesus Cristo estão
escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.
A sabedoria de
Deus é demonstrada no Seu plano de salvar a humanidade. O homem não o
conseguirá fazer. E a mensagem da cruz de Cristo é o tema central dessa
sabedoria. Essa sabedoria é a única que permanecerá em pé no juízo de Deus.
A sabedoria de
Deus está encarnada em Cristo, que veio e Se ofereceu a Si mesmo para que os
homens pudessem ser salvos. Aqui está a sabedoria real, argumentem como
quiserem os filósofos, os sábios deste mundo. E é a esta sabedoria de Deus que
têm que se humilhar e dobrar, reconhecendo a sua ignorância espiritual e
olhando para Jesus.
O que mais Cristo
é para nós? O que mais representa Jesus para as nossas vidas? Deus fez de Jesus
a nossa
2. Justiça
Isto é muito
importante. Prestem atenção, irmãos.
Cristo é a nossa
rectidão. Perante um Deus Santo e Justo, o homem pecador não tem qualquer
hipótese de aceitação, nem de salvação. Mas apenas condenação por causa do seu
pecado.
Mas, aos crentes,
aos salvos, Cristo oferece-nos a justificação perante Deus. O pecador, ao ouvir
a mensagem do evangelho, a mensagem de Jesus crucificado, esse pecador crê no
Salvador. Arrependido do seu pecado, pela sua fé em Jesus, é justificado da sua
culpa, da culpa das suas transgressões às leis de Deus:
“Seja-vos, pois,
notório, varões irmãos, que por este se vos anuncia a remissão dos pecados. E
de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é
justificado todo aquele que crê.” (Atos 13:38-39)
“Sabendo que o homem não é justificado pelas
obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo,
para sermos justificados pela fé de Cristo e não pelas obras da lei, porquanto
pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.” (Gálatas 2:16)
Por causa da cruz
de Jesus, o crente recebe esta atitude, esta decisão de Deus em conceder à
pessoa que crê no Seu Filho uma nova posição diante d’Ele, não a posição de
condenado, mas a posição de justo: “Justificado,
declarado justo, sem culpa”.
É a restauração ao
favor divino – A Justificação proporciona ao homem que crê em Cristo a certeza
da sua aceitação diante de Deus, a certeza de que agora Deus é-lhe favorável. E
Deus faz isto porque está baseado, não em alguma coisa de nós mesmos, mas na
obra redentora de Cristo Jesus, Seu Filho Amado.
“Aquele que crê no Filho tem a vida eterna, (está justificado) mas aquele que não crê no Filho (não está justificado) não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.” (João 3:36)
Vários textos da Palavra de Deus nos dão conta disso. Eis alguns:
Mas, também por nós, a quem será tomado em conta, os que cremos naquele que dos mortos ressuscitou a Jesus, nosso Senhor, o qual, por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para a nossa justificação. Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. (Rom.4:24-5:1). Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus. (II Cor.5:21).
“Mas,
agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e
dos Profetas, isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e
sobre todos os que crêem; porque não há diferença. Porque todos pecaram e
destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua
graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para
propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão
dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua
justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele
que tem fé em Jesus.” (Romanos 3:9-26)
Quando o homem crê
em Cristo, e, consequentemente, é justificado por Deus, ele é livre da pena, no
que diz respeito à morte espiritual e eterna:
“Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus...” (Romanos 8:1)
Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica…” (Romanos 8:33-34)
“Quem crê nele não é condenado; mas quem não
crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.”
(João 3:18)
Não conhecemos
outra justiça senão a de Jesus. Ele é a nossa justiça. É assim que Deus nos
restaura ao Seu favor. Não fomos justificados porque Deus encontrou alguma
justiça em nós que possibilitasse a que, por nossos próprios méritos,
estivéssemos de pé diante d’Ele. Foi-nos imputada a justiça de Cristo. Isso
ocorre pela fé. Não há obras para isso. Como diz o nosso texto base, “...Jesus
Cristo... para nós foi feito por Deus... justiça...”.
Conclusão
O Cristo crucificado, então, pode ser um
escândalo para alguns, e uma loucura para outros, mas para nós que somos salvos
é o poder, o dúnamis de Deus que operou o milagre da nossa salvação; é a
manifestação da sabedoria de Deus que planejou e soube como efetuar o plano
para a nossa salvação; e é a nossa justiça. Nós não temos justiça própria, Cristo
é a nossa justiça. É nele que somos perdoados, é nele que somos libertos da
pena do pecado, é nele que somos justificados, é nele que somos salvos, é nele
que somos aceitos diante de Deus, é por ele que temos acesso a essa graça, é
por ele que Deus se tornou favorável a nós; e é só por ele; não há outro meio.