Resultados
Implícitos da Salvação
Deus é Pai
E, se invocais por Pai…
I Pedro 1:17
Introdução
Pedro, depois de ter declarado
tantas e tão grandes verdades cristãs, após o louvor a Deus pelas bênçãos da
salvação, é agora inspirado a fazer aplicações práticas dessas verdades. Pedro
disse-nos no que consiste o Evangelho e quais são as suas promessas. Agora, passou
a mostrar-nos o que esse Evangelho exige das nossas vidas. Pedro iniciou isso
no v.13.
I. Deus, que é Santo, é
nosso Pai – “E, se invocais por Pai…”
Aqueles
crentes, como verdadeiros cristãos, dirigiam-se em oração a Deus chamando-O de Pai. Nós
podemos chamar a Deus de Pai. Nós chamamos a Deus como nosso
Pai muito frequentemente, diariamente. Mas, às vezes, é bom alguém nos lembrar o que isso representa.
A
designação de Deus como Pai já aparecera anteriormente nos vs,1,2 e 3. Esta
revelação de Deus como Pai representa para o cristão
daquele tempo, as primeiras igrejas, uma das maiores graças que acompanham a
salvação em Jesus Cristo.
Na
verdade, alguma coisa mudou do judaísmo para os cristãos. Algo profundo mudou
com a vinda do Filho de Deus. Algo mudou para os discípulos de Jesus, para nós,
crentes.
O que foi que mudou?
1. – Deus
está agora mais próximo.
2. – Deus
é conhecido de forma mais íntima
pela pessoa que O louva e bendiz. Isto deve-se a um acontecimento fundamental:
A encarnação de Deus Filho. Deus habitou e viveu entre nós.
3. – Deus
agora não é mais só
O
Senhor, Deus de Israel, da
nação escolhida. Ele é Quem? É Pai.
É
o nosso Pai, o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo. Cristo
veio e mostrou-nos o Pai. Cristo revelou-nos o Pai que O enviou. Jesus é a expressa
imagem de Deus. Jesus ensinou-nos a orar ao Pai e que o Pai celestial
conhece-nos e supre as nossas necessidades. Jesus ensinou-nos isto de uma forma
magnífica no Sermão do Monte. (Mt.6:4,6,9,18,26, 31-34: “vosso Pai celeste”
Era assim
que Jesus Se dirigia a Deus: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis;
afasta de mim este cálice… (Marc.14:36).
Foi assim
que Jesus ensinou os seus discípulos, e a nós, a que fizessem: Quando
orardes, dizei: Pai nosso, que estais nos céus… (Lucas 11:2).
4. – O apóstolo Paulo, num texto muito importante, fala da nossa adoção em Cristo como filhos de
Deus: …Deus enviou seu Filho… para remir os que estavam debaixo da lei, a fim
de recebermos a adoção de filhos. E porque sois filhos, Deus enviou aos vossos
corações o Espírito de seu filho, que clama: Aba, Pai. (Gál.4:4-6).
Por
sermos filhos, o Espírito de Cristo, que o Pai colocou nos nossos corações,
clama dentro de nós, “Paizinho”. No
texto paralelo de Romanos 8:14-16, Paulo efetivamente aplica a si mesmo esse
privilégio, dizendo que por isso podemos dirigir-nos a Deus como Pai.
É ao abrigo desta relação de Pai que o
N.T. apresenta os aspetos mais ternos do Seu caráter, ou seja, o Seu amor, o
Seu vigilante cuidado, a Sua fidelidade, etc. Daí que Jesus tenha dito tantas
vezes aos Doze: “...quanto mais vosso Pai, que está nos céus…” (Mat.7:11).
II. Pai, alguns dos Seus nomes e títulos
1. – Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo – “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, o Pai das misericórdias… (II Cor.1:3; Efés.3:14; I Pedro 1:3)
Este
é o título completo do Pai.
Jesus,
o Pai
da eternidade (Is.9:6), era o Filho Unigénito do Pai desde a
eternidade e, sendo o próprio Deus, está eternamente em absoluta igualdade com
o Pai. “Pai” era a designação de Deus mais comum nos lábios de Jesus e
que está reservada especialmente para a Primeira Pessoa da Trindade.
Cristo
usava-a de uma maneira específica e pessoal aplicando-a, antes de mais nada, à
Sua relação com Deus e à Sua posição incomparável de Filho.
É
uma relação sem paralelo e que não pode ser compartilhada por qualquer
criatura. É uma Filiação num nível inteiramente sem igual no Universo. É uma
relação eterna, sem princípio nem fim, imutável e essencial na Natureza Divina.
É
significativo que Jesus, no Seu ensino aos apóstolos, nunca se associou com
eles dizendo “nosso Pai”; Jesus usou sempre o singular, “Meu Pai”(Mt.11:27; 25:34;
Ap.2:27; 3:5).
Depois
da ressurreição indicou duas relações distintas: “meu Pai e vosso Pai”(Jo.20:17).
Assim,
os apóstolos falavam de Deus como o Pai do nosso Senhor Jesus Cristo (Rm.15:6;
II Co.1:3; Ef.3:14).
2. – Aba, Pai – “E porque
sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que
clama: Aba, Pai” - Gálatas 4:6, Marcos 14:36; Romanos 8:15
Nos
únicos três lugares em que aparece no N.T. é utilizada para invocar o Pai em oração. É usada na
vida diária da família e adquiriu o tom caloroso de “papá querido, paizinho”.
Não
encontramos Aba como um modo de se dirigir a Deus no A.T.. O judeu piedoso
conhecia perfeitamente o grande abismo entre Deus e o homem (Ec.5:1) e não se
sentia livre para se dirigir a Deus deste modo.
Contudo,
numa maneira inteiramente nova e nunca imaginada, Jesus dirigia-Se assim ao Pai
em oração, expressando um relacionamento sem igual de amor e confiança.
Aba mostra que Jesus nos abriu esta
porta para nos dirigirmos ao Pai de uma maneira carinhosa, íntima e familiar.
Paulo vê em Aba (Pai querido) evidência de duas coisas: da nossa adoção
como filhos através de Cristo e de possuirmos o Espírito Santo.
A
bênção da Igreja poder dizer Aba é um cumprimento da promessa de
Deus: E eu serei para vós Pai e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o
Senhor, Todo-Poderoso (II Co.6:18).
3. – Pai celestial – “ …quanto
mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem”. – Lucas 11:13
Jesus
referiu-se muitas vezes ao Pai como Pai celeste e Pai que estás nos céus.
Todas as pessoas têm um pai que as gerou. Mas só os nascidos de novo pelo
Espírito Santo, os que receberam Jesus pela fé, têm além deste pai terreno um
Pai que está céu (Jo.1:12-13), que deu origem a todas as coisas visíveis e
invisíveis.
É
muito claro no ensino de Cristo a restrição da Paternidade de Deus ao Seu povo
crente. Deus não é o Pai de todos os homens. É o criador de todos os homens,
mas Ele é Pai de todos os que creem. Em caso algum dá a entender que essa
relação existe entre Deus e os incrédulos.
Aos
Seus inimigos zombadores, Jesus foi inteiramente franco e explícito quando
disse: “Vós tendes por pai ao diabo...” (Jo.8:44).
Para
ser salvo, o homem tem que ser “filho do Pai celestial” e é junto
d’Ele que teremos o nosso galardão. É Ele, também, Quem “perdoa as nossas ofensas”
e Quem conhece as nossas necessidades (Mt.6:1,14,32). Os fiéis ouvirão o seu
nome ser confessado, disse Jesus, “...diante do meu Pai que está nos céus”
(Mt.10:32).
4. – Pai da Glória – “Para
que o Deus do nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu
conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação”. (Efésios 1:17)
"Glória"
(gr. doxa), tem a ver com a natureza
e os atos de Deus na Sua manifestação, o que Ele essencialmente é e faz, a Sua
majestade e poder. Descreve Deus como a fonte de onde procede toda a perfeição
e esplendor divinos. Sugere alguma coisa que irradia daquele que a tem. Em
geral, traz a ideia de dignidade, peso,
reputação.
No
A.T., a glória de Deus saiu com o Seu povo na nuvem no deserto, foi vista no
monte Sinai, encheu o tabernáculo e é referida em muitas visões dos profetas.
Jesus
Cristo, na Sua Pessoa e obra, revelou o Pai ao mundo, pois Ele "é o
resplendor da sua glória" (Hb.1:3).
No
trecho de Efésios 1:15-23, Paulo apresenta Aquele que ouve e responde às
orações como sendo o Pai da glória e descreve-O como
Aquele que dá ao Seu povo o espírito de sabedoria e de revelação
e que ilumina os olhos do nosso entendimento de forma a que possamos
vir a conhecer as riquezas da glória da sua herança nos santos e a sobreexcelente
grandeza do seu poder que mostrou ao ressuscitar Jesus Cristo dos
mortos.
Renovando
a sua oração em Efésios 3:14-21, Paulo, na sua prece, diz que se põe de
joelhos perante o Pai a fim de fortalecer a sua fé e para que o Pai
compartilhe da Sua riqueza connosco, ao nos abençoar, concedendo-nos muito mais
do que aquilo que nós Lhe pedimos ou pensamos.
E
termina dizendo que a esse [Pai da glória], todos os crentes devem louvar e render glória
na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Ámen.
5. – Pai Justo – “Pai justo,
o mundo não te conheceu; mas eu te conheci.” – João 17:25
Jesus
refere-se deste modo ao Pai quando proferiu a Sua oração sacerdotal. O Pai é justo
(gr. dikaios) porque é reto, verdadeiro, fiável, imparcial no Seu modo de lidar
com o homem. Todos os tratos do Pai com os homens baseiam-se na justiça
absoluta.
Ele
é justo na redenção e na salvação, no Seu amor à retidão e na Sua indignação
contra a iniquidade, na punição dos perversos e injustos, na recompensa dos
justos, no cumprimento da Sua Palavra e das Suas promessas aos que Lhe
pertencem.
Desde
sempre que os Seus atos justos são louvados e glorificados. Todo aquele que
anseia pela redenção invoca a justiça do Pai, para que o livre e o salve.
O
mundo ímpio e descrente, por contraste, descobre que a justiça do Pai é a raiz
da sua queda. A justiça do Pai foi vista na morte de Seu Filho, pois por ela
mostrou ao mundo que não é indiferente ao pecado nem olha para ele levemente.
Pelo contrário, condena-o.
Sendo
um Pai
Justo, é perfeito e absolutamente equilibrado na demonstração da Sua
bondade e severidade. Considerai, pois, a bondade e a severidade
de Deus (Rm.11:22), adverte a Escritura acerca do caráter d'Aquele com
quem temos de tratar e que agirá sem favoritismos.
6. – Pai das Luzes – “Toda a
boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em
quem não há mudança, nem sombra de variação.” – Tiago 1:17
Esta
descrição do Pai é única nas Escrituras. I João 1:5 faz uma afirmação absoluta
e grandiosa: Deus é luz e não há nele trevas nenhumas.
A
palavra luz (gr. phos), é
usada em conexão com alegria, bênção e vida, em contraste com a tristeza e a
morte. Tem a ver com a presença e o favor de Deus. O Pai das luzes é o Criador
e a fonte última da luz física, intelectual e espiritual. A Sua santidade e a
glória do Seu lugar de habitação são expressos em termos de luz: "...habita
na luz inacessível, a quem nenhum homem viu nem pode ver..." (II
Tm.6:16).
É
quase certo que luzes deve ser entendido como os corpos celestes, provavelmente
incluindo o sol, a luz e as estrelas. A Bíblia diz que o firmamento dos céus é
evidência da obra criadora de Deus. "Mudança" e "sombra
de variação" (v.17) sugerem, naturalmente, os movimentos
periódicos dos corpos celestes, as fases da lua, a sobra projetada por um
eclipse e a constante alternância de noites e dias.
Ora,
o sol e a lua variam. Podem ser eclipsados e deixar-nos às escuras. Não é assim
com o Pai das luzes. N'Ele não há mudança nem sobra de variação.
Toda a bênção que gozamos devemo-la à Sua bondade infalível e à Sua graça e
misericórdia inalteráveis. A imutabilidade é um dos atributos do Pai
das luzes.
Este
nome mostra o contraste com a ideia corrente na astrologia de que as estrelas e
os astros controlam fatalmente o destino de cada pessoa. Tiago afirma que o
nosso Pai, que é perfeito em benevolência, rodeia o nosso caminho com dádivas
que descem
lá do alto, ou seja, do Seu lugar de habitação, o céu.
Das
afirmações acerca do ser essencial do Pai, luz revela a Sua perfeita pureza e
inexprimível majestade. O Salmo 104:1-2 diz que a roupa do Senhor é luz,
que Ele é magnificentíssimo, vestido de glória e de majestade. A luz
simboliza a justiça e a verdade.
Tal
como Jesus Cristo, os crentes são a luz do mundo, pelo que devem
vestir-se das armas da luz (Rm.13:12) e tomar consciência de que não
há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14). Os discípulos não
devem esconder-se, mas viverem e trabalharem em lugares onde a sua influência
seja sentida e a luz que neles haja possa ser vista, expressa em atos reais de
amor e de serviço, luz que não é deste mundo mas que desce do alto, do Pai das luzes.
7. – Pai das Misericórdias – “Bendito
seja o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, e o
Deus de toda a consolação.” – II
Coríntios 1:3
Acompanhar
o conceito de misericórdia, na Bíblia em português, é algo complicado devido ao
facto de que há diversas raízes gregas: eleos, oiktirmos e splanchnon.
“Misericórdia” é compaixão, pena, amor
para com alguém que sofre necessidade ou está em angústia desesperada, ou que
está em dívida e não pode solicitar tratamento favorável, pelo que também tem a
ver com graça, bondade, favor, longanimidade.
A
graça do Pai volta-se para o homem como culpado; a Sua misericórdia
volta-se para ele como miserável. O Pai é riquíssimo em misericórdia, pois estando
nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo
(Ef.2:4-5).
Reparemos
neste exclusivismo: Ele é o Pai das misericórdias e o Deus de toda a
consolação. Só n'Ele há apoio, consolo e força para todas as
vicissitudes da vida, pois este é o Seu nome. Ele fica connosco, conforta-nos
com ternura e compreensão, enche-nos de força para a batalha. Por muito que
façamos, não podemos escapar às tribulações da vida. Os dias da adversidade
chegarão. Na verdade, todos temos que chegar ao nosso Getesêmane. Mas eis a
mensagem: há Um — Um único —que nas emergências permanece sempre connosco, tal
como dizia David (Sl.145:8-9).
Os outros podem abandonar-nos, o Pai das misericórdias nunca o faz.
Mas,
por que é que o Pai das misericórdias...nos consola em toda a nossa tribulação?
A
resposta está aqui: ...para que também possamos consolar os que estiverem em alguma
tribulação (II Co.1:4). Eis a nossa obrigação como cristãos, sermos misericordiosos
como também vosso Pai é misericordioso, acrescentando que ele é
benigno para com os ingratos e maus (Lc.6:35-36; Mt.18:21; Cl.3:12).
Os
misericordiosos são bem-aventurados e para com eles usar-se-á de misericórdia
(Mt.5:7). O Pai das misericórdias vem até nós e por nós vai aos outros.
8. – Pai Santo – “…Pai santo,
guarda em teu nome aqueles que me deste…” – Joa.17:11
A
Santidade do Pai é o Seu atributo mais exaltado e destacado, pois expressa a majestade
da Sua natureza e caráter morais. Sendo Santo, Ele é separado de tudo quanto é
de natureza pecaminosa, e absolutamente perfeito, puro e íntegro na Sua Pessoa
e nas Suas obras. Ele nunca fez, nem fará, nada errado (Jb.34:10). Toda a Sua
vontade e planos são corretos porque Ele é Santo (gr. ayios).
A
santidade do Pai também é vista na Sua aversão ao pecado, pois os
seus olhos são tão puros que não podem ver o mal (Habac.1:13). Ele ama
os pecadores mas abomina o pecado, deleitando-Se apenas naquilo que é santo e
reto.
Assim,
sendo Ele infinitamente Santo, providenciou a aceitação dos pecadores e ímpios
ao enviar o Seu Filho Unigénito, Jesus Cristo, para derramar o Seu sangue na
cruz, pois o pecado precisa de ser coberto antes que possa haver comunhão entre
o Pai Santo e o pecador. Nisto, o Pai mostrou o Seu amor, ao amar seres tão
totalmente pecadores.
Mas
agora prestem bem atenção ao restante de I Pedro 1:17.
O que aqueles crentes, e nós, não podem esquecer é
que esse mesmo Deus, com o qual foram colocados numa relação tão íntima, também
faz o quê?…julga.
O Pai também é o quê? É Juiz,
o Deus julgador da história.
Mas essa será outra mensagem.
Rui Simão
Pastor na Igreja Evangélica Baptista em Moreira da Maia
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